Um caminhão de combate a incêndios dirige, ininterruptamente, em círculos, com a mangueira de água apontada para o centro, uma espécie de fonte invertida. Uma pá escavadeira percorre um trajeto na forma de um símbolo de infinito, transportando terra de um lado para o outro, uma espécie de ampulheta gigante que nunca para de girar. Os vídeos Fonte 193 e 475 Volver, da artista plástica brasileira Cinthia Marcelle, sublinham palavras de emergência.
Fonte e ampulheta, objetos sistematizados por fluxos contínuos de água e areia. Símbolos do tempo, de uma civilização que transita entre razão e barbárie. Água que irriga um solo destruído – sabemos que nada vai brotar. Terra que é deslocada, inutilmente, de um canto a outro – sabemos que nada mais ficará de pé. Forçando as fronteiras do imaginário, a artista inverte os sentidos, toma de assalto o desconhecido: uma prática de reinvenção do mundo.