A defesa do meio ambiente e a busca pelo crescimento econômico, geralmente, são apresentadas como duas temáticas antagônicas, mas o documento O Uso Eficiente de Recursos na América Latina: Perspectivas e implicações econômicas, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), divulgado em junho, trata os dois assuntos de forma não excludente, sob a abordagem “crescer cuidando”.
O estudo defende a ideia de que o uso mais eficiente dos recursos hídricos, de solo e de energia pode exercer um papel fundamental para garantir a continuidade do desenvolvimento produtivo com competitividade e, ao mesmo tempo, ser uma ferramenta poderosa para promover a redução da pobreza e das desigualdades em países da América Latina.
A defesa da eficiência baseia-se na opinião de que uma utilização mais competente – minimizando desperdícios – dos recursos daria competitividade industrial aos países estudados (Argentina, Brasil, Chile, México, Paraguai e Uruguai) e aperfeiçoaria o perfil da especialização produtiva e do tipo de inserção internacional das nações.
O “desenvolvimento sustentável” defendido no trabalho requer do Estado um papel de liderança, articulação, fomento, regulamentação e controle. Apesar da presença mais forte do Estado, o documento afirma que as políticas públicas por si só não são suficientes e devem ser implementadas promovendo cooperação público-privada e acordos com diversos atores envolvidos.
Reportagem “Efeito Cilada“, sobre o chamado efeito ricochete, menciona justamente o risco de a mera busca por eficiência servir apenas para promover o crescimento econômico, estimulando aumento do consumo, uso de recursos naturais e emissões de carbono – o que colocaria em xeque seus benefícios ecológicos e não melhoraria a qualidade do desenvolvimento. Assim, a eficiência e o combate ao desperdício devem ser vistos sob uma perspectiva integrada, com reflexão sobre a cultura de consumo e valores da sociedade.