Veículos pesados representam menos de 10% da frota nacional, mas emitem cerca de 45% dos gases de efeito estufa. Países com cronogramas adequados já obtêm ganhos energéticos que podem chegar a 50%
A ausência de uma proposta firme e o prazo excessivamente longo para determinar as metas de eficiência energética de caminhões e ônibus, em 2032, que consta do programa Rota 2030, aprovado pelo governo, estão causando preocupação entre os ambientalistas. Após cerca de um ano sem regime automotivo, o presidente Michel Temer assinou no mês passado o decreto conhecido como Rota 2030, que tem como principais objetivos melhorar a inovação tecnológica, a segurança e sustentabilidade dos carros vendidos no Brasil.
Conforme o Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), representante nacional de organizações não governamentais (ONGs) no Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), não se justifica esperar até 2032, como consta no programa, para que os veículos pesados comecem a adotar as metas de eficiência energética. “É inadmissível esse prazo de 15 anos, enquanto os países que têm cronogramas adequados já obtêm ganhos energéticos que podem chegar a 50%”, afirma Carlos Bocuhy, presidente do Proam e conselheiro do Conama.
O Proam encaminhou, no final da semana passada, ofício ao Ministério da Indústria e Comércio e Serviços (MDIC), responsável pela elaboração do Rota 2030, alertando para os riscos de manter os caminhões e ônibus em condições inadequadas por um prazo tão longo. “Os veículos pesados representam menos de 10% da frota nacional, mas emitem cerca de 45% dos gases de efeito estufa. É preciso que o País cumpra acordos internacionais, assinados pelo governo, de redução de combate ao aquecimento do planeta”, alerta Bocuhy.
O Proam e outras entidades de proteção ambiental solicitam ao governo a adequação do cronograma de melhoria energética e redução dos prazos para até 2023, começando a vigorar em 2025. Nesse ano, conforme o Proam, a meta de melhoria de eficiência não deve ser inferior a 15%; em 2030, não menos que 30%, em relação a uma base de 2020.
Para os ambientalistas, houve um erro na origem quando da elaboração do Rota 2030, que substituiu o Programa Inovar Auto, ao não contar com a participação mais efetiva do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), Ministério do Meio Ambiente (MMA) e sociedade civil.
“O setor industrial vem assumindo indevidamente posições que seriam de competência do Ministério do Meio Ambiente, imprimindo a agenda de eficiência energética de forma quase estanque, sem os cuidados ambientais imprescindíveis e inerentes ao desenvolvimento sustentável e as mudanças climáticas”, afirma Bocuhy.