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Inovações amazônicas para o enfrentamento do novo coronavírus e melhoria da qualidade na saúde

Máscaras hospitalares ganham nova vida, com menos custos, poluição por resíduos e riscos à saúde

Como fazer das máscaras descartáveis e protetores faciais apenas uma solução, não um problema? É possível diminuir custos e a dependência que significa riscos em situação de crise? Como reduzir esse material no lixo hospitalar, um perigo à saúde e ao meio ambiente? As perguntas motivaram a equipe do pesquisador Pritesh Lalwani, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em Manaus, a desenvolver a tecnologia de uma caixa esterilizadora que permite a reutilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPI).

“A ideia surgiu diante da nossa própria dificuldade de encontrá-los no mercado, durante a pandemia, para fazer coleta de amostras em hospitais e continuar as pesquisas de testes rápidos de Covid-19 com segurança”, conta o pesquisador, voltado ao estudo de infecções virais, ao lado da aluna de mestrado Nani Carvalho.

A inovação, em fase de patenteamento, está baseada na incidência da luz ultravioleta (UV) que destrói micróbios, com diferenciais de design e engenharia capazes de tornar o processo mais eficiente e simples, e economicamente viável. “A ação do UV é conhecida há mais de 30 anos, mas era necessário achar um jeito seguro e prático de evitar sombras que impedem a descontaminação completa das máscaras”, explica Lalwani, ao lembrar que a superfície de apoio não poderia ser de vidro ou acrílico, pois esses materiais bloqueiam a luz.

A solução para o importante detalhe técnico veio com o apoio do físico Eduardo Costa, da Universidade Federal do Amazonas, que identificou o melhor material e fez as medições de luz em laboratório, para comprovar os resultados contra vírus, bactérias e fungos. Após o uso da máscara por oito horas pelo profissional de saúde, o método permite reaproveitá-la por uma semana ou mais, podendo ser descontaminada até 20 vezes. Adaptável a lâmpadas existentes no mercado, a caixa tem capacidade de desinfectar 25 unidades em menos de 10 minutos.

 

Um problema global

No mundo, são descartadas mensalmente cerca de 129 bilhões de máscaras e 65 bilhões de luvas hospitalares, segundo estimativa da Sociedade Americana de Química. Além dos riscos de contaminação pelo vírus da Covid-19, que se mantém vivo por até três dias em plásticos, o material pode causar impactos ambientais quando destinado a aterros ou à incineração, com possível emissão de poluentes no ar. O custo de descarte seguro é alto e muitas vezes o resíduo chega nos rios ou no mar, atingindo a biodiversidade.

Indiano com doutorado na Alemanha, o pesquisador investiu recursos próprios para iniciar os experimentos no projeto, posteriormente aprovado na Superintendência da Zona Franca de Manaus para captação de investimento empresarial no Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio-Procovid), para aperfeiçoamento e automação do protótipo antes de finalmente chegar ao mercado.

Nesta etapa, entrou em cena a parceria com o Instituto Certi Amazônia, dedicado a trabalhar o design, eletrônica e controles de segurança do novo produto. “O principal desafio agora é montar o modelo ideal da cadeia produtiva para viabilizar a chegada à ponta final com o menor custo possível”, ressalta o diretor-geral, Marco Antônio Gaglio. Segundo ele, o custo unitário da desinfeção é 20 a 30 vezes mais baixo em relação ao valor de compra de novas máscaras hospitalares (N-95).

A estratégia para avançar no mercado é transferir a tecnologia para empresas parceiras locais, com a possibilidade de uso da caixa para desinfeção de EPIs hospitalares em geral, como luvas, sapatos e óculos, além das máscaras. Dependendo dos resultados e da aceitação, diz o diretor, a tecnologia pode ampliar o raio para descontaminação também de celulares e outros objetos de largo uso cotidiano. 

A imagem mostra ação de bactéria selecionada na natureza contra fungos que atacam culturas agrícolas.
Caixa esterilizadora desenvolvida na Fiocruz permite reutilizar máscaras hospitalares
A mastruz é pesquisada na Ufam pelo potencial contra o novo cororonavírus.