Sustentabilidade é certamente uma palavra da moda. As empresas, os governos e até as pessoas se vangloriam de ser sustentáveis, geralmente tomando como referência alguma prática isolada da qual participam, sem, contudo, entender que a verdadeira sustentabilidade requer uma profunda mudança de cultura e hábitos.
Uma empresa que passou a realizar coleta seletiva de seu lixo não é necessariamente sustentável, assim como não é sustentável um consumidor que eventualmente tenha trocado seu automóvel antigo por um modelo flex fuel. O que dizer, então, dos governos que, por exemplo, alegam contribuir para a sustentabilidade pelo fato de instalarem sistemas do tipo BRT – meio de transporte coletivo de alta capacidade que tem o objetivo de prover um serviço mais rápido e eficiente – em algumas grandes cidades?
Entendo que o status de ser sustentável só é legítimo quando abrange de forma macro, global e ampla todas as ações de uma pessoa, corporação ou governo.
No caso das pessoas, isso compreende seus hábitos de consumo, desde os gastos com energia, alimentos, vestuário, transporte, moradia etc., até a forma como compartilham esses recursos com seus familiares e vizinhos. Alguém que, conforme mencionei acima, troca seu veículo antigo por um novo modelo flex fuel – o que teoricamente permite reduzir o consumo de combustíveis fósseis –, mas continua a se deslocar diariamente sozinho para o trabalho neste carro, piorando a qualidade do ar e entupindo as ruas (que não oferecem mais vagas para circulação e estacionamento nas grandes cidades), na verdade está contribuindo para a piora da qualidade de vida de sua comunidade.
Enquanto muitas empresas privadas começam a adotar práticas ambientalmente corretas, seja em virtude do recrudescimento da legislação, seja por pressão da sociedade civil, simultaneamente conservam práticas das quais não teriam qualquer orgulho caso fossem divulgadas. Nossa legislação é falha e a fiscalização é insuficiente, incompetente e corrompida – ou tudo isso junto. Setores como os de construção civil, frigorífico, mineração e tantos outros segmentos essenciais ao desenvolvimento do País, sem falar nas áreas de saúde e educação, ainda possuem um longo terreno a percorrer antes que atinjam um patamar de sustentabilidade que possa ser considerado aceitável.
Todos reclamam do excesso de tributação – o que é procedente, já que somos um dos países onde mais se paga impostos no mundo –, mas poucos se preocupam com o volume de lixo e resíduos gerados por suas atividades, não interagem com as comunidades onde operam para conhecer e minimizar os impactos negativos de suas operações e nem mesmo possuem mecanismos para agilizar a inclusão social e econômica das categorias menos favorecidas com as quais se relacionam.
Quanto aos nossos governantes, cada vez mais famosos pelos casos de descompromisso com os interesses públicos, nem é necessário “chover no molhado”: administração com métodos antiquados, obras e serviços de utilidade questionável, preços superfaturados e falta de acompanhamento na execução e entrega, falta de transparência nas licitações e falta de continuidade dos programas de governo, especialmente quando há alternância nos cargos públicos. Enquanto tangenciam a tomada de decisão sobre as questões que poderiam significar verdadeiro avanço para a sociedade brasileira (educação, transporte público de qualidade, saúde pública, reforma tributária, infraestrutura e segurança), perdem-se em discussões inócuas e em acordos estranhos que visam unicamente a perpetuação no poder.
Como exemplo de inércia, posso citar as obras do BRT em Belo Horizonte: alguns bairros e a região central da cidade tornaram-se canteiros inativos de obras, enquanto a implantação do discutível BRT não avança – não se sabe por quê. Além de não conferir a prometida agilidade nas execução das obras, o diálogo sofre restrições – até as reuniões semanais entre os comerciantes afetados e os administradores da obra tiveram seus intervalos aumentados até serem extintas.
Porém, nem tudo está perdido. Enquanto o mundo esportivo aponta seus holofotes para os grandes eventos de futebol coordenados pela FIFA no Brasil a partir de 2013, que teoricamente devem alavancar a economia local, a população começa a se mobilizar de forma (quase) organizada, com o objetivo de exigir a entrega de melhores resultados a partir de tudo o que se arrecada sob a forma de tributos nesse país, numa clara mensagem de que não basta futebol: o povo quer muito mais. Se, por um lado, o governo e as instituições estão ainda atordoados com as manifestações populares, por outro, ao menos já sabem o que é insustentável: a postura inerte diante do clamor social.
É imperativo que as comunidades continuem se mobilizando para defender seus interesses, seu patrimônio natural e o futuro de seus descendentes. As instituições e os governos que se cuidem para mostrar com transparência o que produzem, quais são os custos envolvidos (inclusive os ambientais) em sua atuação e quanto da riqueza gerada é revertida para os integrantes de sua cadeia produtiva e para a comunidade. E as pessoas precisam se engajar cada vez mais na busca por uma sociedade mais justa.
Isso, sim, é sustentabilidade: queremos uma vida de boa qualidade agora, mas também precisamos agir com responsabilidade para garantir que, no futuro, os recursos da Terra não estejam exauridos e que as próximas gerações possam ainda usufruir da maravilhosa experiência da vida no planeta azul.
*Gerente de projetos de sustentabilidade na Keyassociados. Especialista em Finanças e Governança Corporativa e administrador de empresas com MBA em Finanças pela Fundação Dom Cabral e em Relações com Investidores, Finanças e Comunicação pela Fipecafi.