Mais de 60 milhões de pessoas estão sofrendo em todo o mundo com os efeitos do El Niño, decorrente do aquecimento da superfície do Oceano Pacífico, que altera os padrões climáticos em todo o planeta. De acordo com o Escritório para Assuntos Humanitários das Nações Unidas (OCHA, sigla em inglês), as necessidades humanitárias causadas pelo El Niño estão exigindo um esforço adicional de ajuda que pode chegar a mais de 3,5 bilhões de dólares ainda em 2016. No entanto, a ONU alerta que faltam cerca de US$ 2,2 bilhões para financiar este esforço, o que pode comprometer as operações de ajuda humanitária nos países afetados.
As necessidades são crescentes. No leste e sudeste africanos, 32 milhões de pessoas estão em situação emergencial; desse número, mais de um milhão de crianças estão severamente subnutridas. Apenas na Etiópia, afligida pela pior seca em meio século, mais de 10,2 milhões de pessoas necessitam de ajuda alimentar e 6,8 milhões precisam de assistência médica e acesso a água (saiba mais).
No Pacífico, diversas nações insulares também estão sofrendo com eventos climáticos extremos mais frequentes. Vanuatu sofreu com fortes tempestades no começo de 2016, desalojando milhares de pessoas e destruindo propriedades e infra-estrutura. Nas Ilhas Marshall, as chuvas tradicionais do começo de ano caíram para 1/4 do volume esperado, o que causou uma crise pública sem precedentes, com falta de água potável para toda a população.
Na América Central, a seca está arruinando plantações e ameaçando a segurança alimentar de quase 10 milhões de pessoas (saiba mais). Na Venezuela, a falta de chuvas piorou consideravelmente a situação já dramática da economia nacional, com a redução no nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas do país e a consequente queda na geração de eletricidade. Nesta semana, o governo venezuelano anunciou um regime radical de racionamento de energia elétrica, que envolve medidas como a redução da semana útil nas repartições públicas para apenas dois dias por semana.
Segundo o OCHA, oito países já declararam estado nacional de emergência por causa de eventos climáticos extremos associados ao El Niño: El Salvador, Guatemala, Honduras, Lesoto, Malawi, Suazilândia e Zimbábue. Com a tendência de piora da situação, principalmente no continente africano, o gap entre os recursos necessários e os disponibilizados tende a aumentar nos próximos meses.
“Enquanto o impacto coletivo do El Niño criou um dos maiores desastres do mundo para milhões de pessoas, infelizmente esta crise está recebendo relativamente pouca atenção”, lamenta Stephen O’Brien, chefe do OCHA. “O quanto mais esperarmos para agir, mais custosa será a resposta que precisaremos dar no futuro. A inação também pode comprometer décadas de investimento em desenvolvimento. Apenas para comparação, a temporada do El Niño em 1997-98 causou a morte de 21 mil pessoas e prejuízos em infraestrutura no valor de US$ 36 bilhões”.
Ainda que o fenômeno não esteja tão forte quanto no final dos anos 1990, estima-se que o aumento da temperatura média do planeta nos últimos anos, decorrente da maior concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, esteja ampliando os impactos do El Niño, o que pode causar perdas similares ou até maiores que as sofridas em 1997 e 1998. Isso depende também da força do La Niña, o fenômeno de resfriamento do Oceano Pacífico que deve se iniciar nos próximos meses, que também causa alterações nos padrões climáticos em diversas partes do mundo.