Puma sai na frente ao calcular custo dos impactos ambientais causados por sua cadeia de negócios
Quanto vale o impacto ambiental de uma empresa? É possível colocar, na ponta do lápis, os custos financeiros advindos da emissão de gases de efeito estufa, do consumo de água e da perda da biodiversidade decorrentes da atividade econômica? A Puma, multinacional alemã do setor de calçados, roupas e artigos esportivos, provou que sim, ao divulgar em novembro o primeiro relatório de contabilização financeira dos impactos ambientais de sua cadeia de negócios, iniciativa inédita no mundo corporativo. Trouxe à tona, com o documento, uma discussão importante: até que ponto é positivo para uma empresa antecipar as demandas de um ambiente regulatório que talvez só venha a ser realidade no futuro? Esse posicionamento de vanguarda pode afetar lucros e afugentar investidores a curto prazo?
O relatório da Puma analisa o impacto ambiental das atividades da companhia em cinco áreas-chave: gases de efeito estufa, consumo de água, uso da terra, poluição atmosférica e resíduos. Por meio de metodologia desenvolvida pelas consultorias PricewaterhouseCoopers e Trucost, a empresa concluiu que sua cadeia de negócios causou um impacto ambiental equivalente a € 145 milhões em 2010. A maior parte desses impactos – 94% do total – tem origem na rede de fornecedores, especialmente na produção de couro, borracha e algodão. Nas operações diretas da Puma – escritórios, lojas, armazéns e distribuição –, a pegada ecológica é muito menor, visto que responde por € 8 milhões, ou 6% dos custos ambientais totais.
“A maior parte dos impactos ocorre nas operações dos parceiros externos, e esses custos não entram nos relatórios financeiros”, reconheceu Jochen Zeitz, presidente da Puma, em entrevista a Página22. “Foi esse o motivo que nos levou a incorporar os serviços ecossistêmicos em nossas contas. É objetivo da companhia tornar-se responsável pelos danos a esses serviços.”
Zeitz também é diretor de sustentabilidade do grupo francês PPR, que, além da Puma, é dono da Fnac e de diversas marcas de alto luxo, como Stella McCartney, Gucci e Yves Saint Laurent. O PPR, que faturou € 14,6 bilhões em 2010, também adotará a metodologia de contas ambientais para o grupo como um todo, com o primeiro relatório previsto para 2015. Conferir valor monetário aos impactos, defende Zeitz, é passo significativo no desenho de um plano eficiente para enfrentá-los. “Sinceramente, espero que nosso relatório possa abrir os olhos do mundo corporativo para o fato de que o modelo econômico que nasceu com a Revolução Industrial, há mais de dois séculos, precisa mudar radicalmente. O novo paradigma dos negócios é trabalhar com a natureza, não contra ela”, resume o executivo.
“Divulgar informações que à primeira vista podem soar negativas proporciona uma transparência nas operações que certamente deverá direcionar a estratégia de produção e segmentação de mercado num futuro próximo”, avalia Marcos Amend, diretor da Conservação Estratégica, organização que incentiva o uso e ensino da economia e do pensamento estratégico como ferramentas para a conservação do meio ambiente. “Esse movimento voluntário tem o efeito de reduzir os riscos de uma adequação abrupta, causada por uma regulação governamental.” Por outro lado, diz Amend, o pioneirismo pode se converter no futuro em vantagens comparativas no mercado. “Ambos os efeitos favorecem a sustentabilidade financeira da empresa a longo prazo.”
Não há indicações de que alguma empresa no Brasil esteja realizando estudos internos para medir monetariamente seus danos ambientais, mas há projetos em curso para desenvolver instrumentos para medição de impactos da atividade econômica no capital natural. O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), por exemplo, elabora ferramentas para incorporar a gestão dos serviços ambientais nos negócios por meio de um software do Natural Capital Project (projeto que envolve universidades americanas, como Stanford, e ONGs ambientalistas). Já em uso por empresas da Colômbia, Canadá, China e Belize, o software agora será testado por companhias brasileiras.
Para Jorge Abrahão, presidente do Instituto Ethos, a valoração do capital natural é uma tendência ainda incipiente no ambiente das empresas que deve ganhar corpo com regulamentações ambientais, como o imposto sobre emissões de carbono recentemente adotado pela Austrália. “As mudanças climáticas mostram que o funcionamento de determinados mercados impõe custos para toda a sociedade.”[:en] Puma sai na frente ao calcular custo dos impactos ambientais causados por sua cadeia de negócios
Quanto vale o impacto ambiental de uma empresa? É possível colocar, na ponta do lápis, os custos financeiros advindos da emissão de gases de efeito estufa, do consumo de água e da perda da biodiversidade decorrentes da atividade econômica? A Puma, multinacional alemã do setor de calçados, roupas e artigos esportivos, provou que sim, ao divulgar em novembro o primeiro relatório de contabilização financeira dos impactos ambientais de sua cadeia de negócios, iniciativa inédita no mundo corporativo. Trouxe à tona, com o documento, uma discussão importante: até que ponto é positivo para uma empresa antecipar as demandas de um ambiente regulatório que talvez só venha a ser realidade no futuro? Esse posicionamento de vanguarda pode afetar lucros e afugentar investidores a curto prazo?
O relatório da Puma analisa o impacto ambiental das atividades da companhia em cinco áreas-chave: gases de efeito estufa, consumo de água, uso da terra, poluição atmosférica e resíduos. Por meio de metodologia desenvolvida pelas consultorias PricewaterhouseCoopers e Trucost, a empresa concluiu que sua cadeia de negócios causou um impacto ambiental equivalente a € 145 milhões em 2010. A maior parte desses impactos – 94% do total – tem origem na rede de fornecedores, especialmente na produção de couro, borracha e algodão. Nas operações diretas da Puma – escritórios, lojas, armazéns e distribuição –, a pegada ecológica é muito menor, visto que responde por € 8 milhões, ou 6% dos custos ambientais totais.
“A maior parte dos impactos ocorre nas operações dos parceiros externos, e esses custos não entram nos relatórios financeiros”, reconheceu Jochen Zeitz, presidente da Puma, em entrevista a Página22. “Foi esse o motivo que nos levou a incorporar os serviços ecossistêmicos em nossas contas. É objetivo da companhia tornar-se responsável pelos danos a esses serviços.”
Zeitz também é diretor de sustentabilidade do grupo francês PPR, que, além da Puma, é dono da Fnac e de diversas marcas de alto luxo, como Stella McCartney, Gucci e Yves Saint Laurent. O PPR, que faturou € 14,6 bilhões em 2010, também adotará a metodologia de contas ambientais para o grupo como um todo, com o primeiro relatório previsto para 2015. Conferir valor monetário aos impactos, defende Zeitz, é passo significativo no desenho de um plano eficiente para enfrentá-los. “Sinceramente, espero que nosso relatório possa abrir os olhos do mundo corporativo para o fato de que o modelo econômico que nasceu com a Revolução Industrial, há mais de dois séculos, precisa mudar radicalmente. O novo paradigma dos negócios é trabalhar com a natureza, não contra ela”, resume o executivo.
“Divulgar informações que à primeira vista podem soar negativas proporciona uma transparência nas operações que certamente deverá direcionar a estratégia de produção e segmentação de mercado num futuro próximo”, avalia Marcos Amend, diretor da Conservação Estratégica, organização que incentiva o uso e ensino da economia e do pensamento estratégico como ferramentas para a conservação do meio ambiente. “Esse movimento voluntário tem o efeito de reduzir os riscos de uma adequação abrupta, causada por uma regulação governamental.” Por outro lado, diz Amend, o pioneirismo pode se converter no futuro em vantagens comparativas no mercado. “Ambos os efeitos favorecem a sustentabilidade financeira da empresa a longo prazo.”
Não há indicações de que alguma empresa no Brasil esteja realizando estudos internos para medir monetariamente seus danos ambientais, mas há projetos em curso para desenvolver instrumentos para medição de impactos da atividade econômica no capital natural. O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), por exemplo, elabora ferramentas para incorporar a gestão dos serviços ambientais nos negócios por meio de um software do Natural Capital Project (projeto que envolve universidades americanas, como Stanford, e ONGs ambientalistas). Já em uso por empresas da Colômbia, Canadá, China e Belize, o software agora será testado por companhias brasileiras.
Para Jorge Abrahão, presidente do Instituto Ethos, a valoração do capital natural é uma tendência ainda incipiente no ambiente das empresas que deve ganhar corpo com regulamentações ambientais, como o imposto sobre emissões de carbono recentemente adotado pela Austrália. “As mudanças climáticas mostram que o funcionamento de determinados mercados impõe custos para toda a sociedade.”