Lá se foi mais um ano. E para embalar o próximo, nada como olhar para trás, ver o que deixamos construído e nos inspirar para a jornada de doze meses que recomeça. Por isso nós, de Página22, elegemos o que de mais marcante publicamos ao longo de 2011. Também buscamos os responsáveis pelos conteúdos para descobrir as razões, histórias de bastidores, inspirações e processos criativos por trás dos nossos textos preferidos.
Confira a premiação de nosso “Oscar”:
1) Melhores edições de cabo a rabo
“Um novo olhar sobre velhos consensos” (edição 55 – agosto)
“Relevante porque, ao questionar ideias-prontas da sustentabilidade, contribui para o próprio desenvolvimento e aprimoramento das ideias e das práticas. O tratamento é provocativo, com a intenção mesmo de chacoalhar para evoluir. Merece destaque a reportagem sobre emissões de carbono, mostrando que a eficiência energética – que muitos veem como salvadora – não basta, é preciso colocar o consumo no centro do debate. Isso abre uma perspectiva totalmente nova para o que se chama de economia verde, ideia que veio a ser aprofundada na edição 57, em entrevista com José Eli da Veiga, ‘A questão é macro’.”(Amália Safatle, editora e fundadora de Página22)
“O futuro da geração presente” (edição 56 – setembro)
“Desde a bela capa, passando por um delicioso Editorial servido em copo de chá, até a irreverente Última, a edição de 5º aniversário foi uma das mais “felizes” da história da revista. Com o mote envelhecimento, a edição passou por temas como comportamento, demografia, economia, políticas sociais, consumo, obsolescência programada, uma delicada reflexão sobre ter ou não filhos, e as inovações que não passam do mero reinventar de rodas. O tratamento gráfico dado à edição também foi um verdadeiro presente.” (Amália Safatle, editora e fundadora de Página22)
2) Melhores capas
“Rio+20: o caminho das pedras” (edição 57 – outubro)
“O desafio foi contar numa só imagem 20 anos de história, avanços, retrocessos nas discussões, movimentos e políticas relacionadas ao desenvolvimento sustentável. O calçadão do Rio, que representa o ponto de partida e de reencontro dessa trajetória, deu a pista. O caminho das pedras indica que há pedras no caminho, e que sustentabilidade é processo e não fim. O movimento sinuoso, ilustrado por Sergio Fabris, mostra que a linha não é reta, mas feita de vaivéns, obstáculos, ondas e muito envolvimento.” (Amália Safatle, editora e fundadora de Página22)
“O turismo que compramos ajuda ou atrapalha?” (edição 53 – junho)
“Sempre evitamos banco de imagem, mas, desta vez, o grafismo combinando à mala de viagem em forma de código de barras caiu como uma luva à chamada de capa. De um jeito conciso e limpo.”(Amália Safatle, editora e fundadora de Página22)
3) Melhores entrevistas
Guilherme Paulus, fundador da operadora de viagens CVC (edição 53– junho)
“Uma das entrevistas que mais deu repercussão no círculo de leitores por trazer uma visão bem diferente, contraditória até, do que esperamos ou estamos acostumados e inclinados a ouvir. Havia tanto descompasso nas respostas do empresário que eu perguntava a mim mesma por onde deveria começar. Mas o resultado jornalístico é mais rico quando se explora o contraditório.” (Amália Safatle, editora e fundadora de Página22)
Carlos Armenio Khatounian, engenheiro agrônomo, professor doutor da Esalq-USP, (edição 58 – novembro)
“Dá para perceber pela minha primeira pergunta que não sou profunda conhecedora da agricultura ecológica. O problema de se especializar em sustentabilidade é que é impossível dominar plenamente todos os assuntos. Por isso foi tão revelador, para mim (daí o título), ouvir o professor desconstruir o senso comum segundo o qual a agricultura empresarial é a única opção para alimentar um mundo superpopuloso. Ele demonstra que não há nenhum paradoxo entre produtividade e preceitos ecológicos, mesmo em larga escala. E que agrotóxicos e conservantes respondem menos a uma necessidade de abastecimento e mais à viabilidade do negócio global da alimentação. Espero que o leitor aprecie a aula tanto quanto eu!” (Carolina Derivi, subeditora)
4) Melhores reportagens de capa
“O avesso do avesso do avesso” (edição 48 – janeiro)
“O assunto identidade brasileira abarrotaria uma biblioteca inteira. Abordá-lo em algumas páginas da revista foi o grande desafio que colocamos a nós mesmos. Foi também um trabalho muito prazeroso, por perscrutar, jornalisticamente, de que matéria somos feitos. Um automergulho, por assim dizer. E que fio usar, para o texto não se perder nas suas múltiplas vertentes? A música brasileira, contorno preciso dos nossos rostos, veio dar uma mãozinha. Usei trechos de canções memoráveis para dar fôlego à respiração do leitor e marcar um ritmo no texto. O arremate final veio com as imagens perturbadoras que ilustram a reportagem, de autoria da fotógrafa Milena Mendes, em uma escolha ousada do então editor de fotografia Bruno Bernardi.” (Amália Safatle, editora e fundadora de Página22)
“Feliz foi Adão que não teve sogra nem caminhão” (edição 50 – março)
“Uma das melhores surpresas do jornalismo é iniciar uma apuração com uma ideia e descobrir, que a pauta era outra. Partindo de um pré-conceito, comecei com uma opinião sobre o tema “felicidade”, embalada pela bonita ideia do FIB, a Felicidade Interna Bruta que o Butão adotou em lugar do PIB. Mas terminei com outra: não, felicidade não deve ser parâmetro de desenvolvimento, ao menos em minha pequena opinião. Felicidade é uma dessas armadilhas nas quais a gente tende a cair de boca, mas desconstruir ideias preconcebidas é uma dádiva que o jornalismo proporciona a seus escribas e leitores. Uma parte bem divertida do trabalho foi encontrar as frases de pára-choques de caminhão que funcionassem como intertítulos do texto e que nivelassem a filosofia popular e a erudição dos especialistas ouvidos.” (Amália Safatle, editora e fundadora de Página22)
5) Melhores reportagens internas
“Se essa rua fosse minha” (edição 52 – maio)
“Este trabalho nasceu a partir de dois desejos muito pessoais: escrever pela primeira vez uma reportagem em primeira pessoa, em que a experiência do repórter conta como informação; e entender, afinal, por que os ciclistas são tão fascinados por suas magrelas e pelo estilo de vida que delas decorre. A joia da reportagem foi descobrir que uma tecnologia tão singela do século XIX é capaz de promover um círculo virtuoso tão amplo, muito além do combate à poluição do ar e da promoção da saúde pelo exercício. Bicicleta tem a ver com justiça social, vitalidade de economias locais, vida de qualidade, humanização do convívio, urbanismo cidadão, estética e muito mais.” (Carolina Derivi, subeditora)
“Inteligência à venda” (edição 52 – maio)
“Essa foi uma reportagem e tanto. O assunto era instigante e me permitiu falar com uma porção de gente que estava com os olhos colocados adiante e fazendo coisas que terão um impacto inacreditável em como vamos viver dentro de mais uns 5 ou 10 anos. Em certa medida, a cidade foi uma dessas coisas absolutamente revolucionárias que a espécie humana conseguiu inventar. Evidente que ela se tornou um emaranhado de problemas ao longo do século 20, mas eu tenho fé que vai dar pé de resolver. A única coisa que me frustrou foi a (não) resposta que recebi da Anfavea. Demonstrou um descaso e uma falta de visão que achei desconcertante por parte de uma indústria importantíssima e que deveria estar mais comprometida com seu próprio futuro.” (Fábio Rodrigues, colaborador)
6) Melhores Estalos
“Natureza feminina” (edição 51 – abril)
“A pauta sobre a influência das mulheres na conservação florestal expressa bem o propósito da seção ‘Estalo’, lançada neste ano: compartilhar ideias insuspeitadas, frescas, instigantes, capazes de mexer com a visão de mundo dos leitores e influenciar seus próprios projetos. Apesar de conhecer bem a lógica de parceria com comunidades locais para garantir bons resultados de conservação, nunca tinha ouvido falar que as mulheres costumam ser alijadas dessas iniciativas, no mundo todo, e que uma abordagem de gênero sobre empreendimentos florestais é capaz de melhorar não só os resultados sociais, como também os ambientais. É um belo exemplo da tal interdependência, de que tanto falamos em sustentabilidade.” (Carolina Derivi, subeditora)
“Enterrados, mas vivos” (edição 58 – novembro)
“Na reportagem frisei que os rios ocultos de São Paulo eram novidade para muita gente. Inclusive para este repórter que jamais pensou na possibilidade de existirem tais cursos d’água. Nesse caso de total desconhecimento, encontrar as fontes certas seria fundamental. E foi. À medida que avançavam as conversas com o pessoal do movimento Rios e Ruas e com o professor Vladimir Bartalini, da USP, eu me assustava um pouco mais com as informações. Redigir o texto foi fácil porque fui privilegiado por ter como personagens pessoas muito engajadas e preparadas para falar do assunto. Pensei, como leitor, naquilo tudo que ouvi e o que mais tinha me surpreendido e deveria ser compartilhado. Foi um verdadeiro despertar de consciência”. (Davi Carvalho, repórter)
7) Melhores Colunas
“O fim da noite” (edição 54 – julho)
Na infância, perdi a conta das vezes que fui ao Planetário de São Paulo para me perder naquele céu pontilhado. No mundo real, só vi um céu igualmente estrelado uma vez, perto de Itu, cidade famosa pela mania de grandeza e que, nos anos 70, tinha um céu idem. Agora, morando na minúscula Santa Fe, perto da fronteira americana com o México, região semidesértica, sem nuvens e sem indústrias, mas de estrelas esparsas, eu comecei a me perguntar: mas afinal, seriam os astros mera ficção? (Regina Scharf, colaboradora e jornalista especializada em meio ambiente)
“Olha o drible!” (edição 58 – novembro)
As minhas colunas são sempre bem pessoais, quase uma crônica da minha vida cotidiana, em geral bem humorada. Mas esse texto sobre a Chapada Diamantina saiu mais sério e emocional, porque voltei realmente impactada pelas mudanças por lá. Vários amigos próximos, que têm uma história com a região, comentaram que ficaram emocionados com o texto. Mas é importante dizer que ele conta um lado, e pequeno, da história. Também tive experiências de lugares, pessoas e papos muito bons por lá, foi uma viagem incrível! E isso precisa ser dito. Quem sabe em uma próxima coluna.” (Daniela Gomes Pinto, colaboradora e pesquisadora do GVces e mestre em Desenvolvimento e meio ambiente pela london School of Economics and Political Science)
8 ) Melhor Crônica
“Sinal dos ventos” (edição 49 – fevereiro)
“São Paulo me serviu como inspiração para escrever essa crônica, considerando que a cidade é um modelo do que o excesso de urbanização é capaz de trazer a uma região. No entanto, assim como São Paulo, em qualquer grande cidade onde é preciso conviver com o concreto e o dinamismo exagerados, cada vez criamos menos espaço para a natureza e o nosso próprio bem-estar. Será que dá para desacelerar o ritmo e amenizar o estresse? Não sei. Mas, se não quisermos trocar de cidade, no fim das contas o que nos resta é buscar fazer do cotidiano nesses ambientes tão cinzentos uma oportunidade mais agradável.” (Eduardo Shor, colaborador)
9) Melhor Radar
“Uma chance para o futuro” (edição 49 – fevereiro)
“O mote para o texto foi um post do escritor de ficção científica Charles Stross sobre a necessidade de utopias, justamente em um período em que tudo o que me caía nas mãos parecia prever um futuro sombrio. A ideia inicial era entrevistar Stross sobre utopias, como elas são usadas na literatura e, em especial, na ficção científica, um gênero que nos ajuda a pensar o futuro. Stross respondeu ao meu contato, mas declinou do pedido de entrevista, dizendo não ser um especialista em utopias. Decidi abordar o tema de qualquer forma e acabei aprendendo bastante sobre o mundo da ficção científica e algumas de suas visões do futuro. (Flavia Pardini, colaboradora e jornalista fundadora de Página22)
10) Melhores Artigos
“O novo campo político” (edição 51 – abril)
“Naquele momento de muitas indefinições tentamos trazer nossa leitura sobre algumas possibilidades e desafios do campo político emergente. Sentíamos a importância de compartilhar nossa reflexão de dentro do processo, orientada pela busca de um novo jeito de se fazer política, mas com um distanciamento relativo que pudesse colaborar com a ampliação das articulações de maneira dinâmica e aberta. O fundamental é que a intenção persiste em conexão cada vez maior com movimentos que convergem para construção de uma nova alternativa política para o país.” (Eduardo Rombauer, bacharel em relações internacionais e profissional de desenvolvimento, e Marcel Taminato, bacharel em Ciências Sociais, mestre e doutorando em Antropologia Social. Ambos foram ativos no desenvolvimento do Movimento Marina Silva)
“Sangue de boi” (edição 54 – agosto)
“O desafio foi abordar em um texto a questão da pecuária como vetor de desmatamento de forma sucinta e objetiva, já que ela envolve diversos gargalos intrincados, dentre eles, a questão fundiária. O tema é, por si, polêmico, e isso restou claro ao nos depararmos com o primeiro comentário deixado por um leitor, afirmando que “graças a Deus que o Brasil tem o maior rebanho comercial do mundo” e que nós, autoras, emitíamos mais gases com nossos puns e carros do que os puns e arrotos dos pobres dos bois! Depoimento tragicômico, mas que nos fez refletir o quão árduo é o caminho a se percorrer em busca de uma nova visão de produção, consumo, alimentação, em busca da sustentabilidade na floresta e nas nossas próprias vidas.”(Carolina Reis, colaboradora e pesquisadora do Programa de Consumo Sustentável do Gvces)
11) Melhor Análise
“O mito da energia abundante” (edição 53– julho)
12) Melhor conteúdo internacional
Entrevista com Bassma Kodmani – diretora da Arab Reform Initiative (edição 51 – maio)
“A entrevista nos foi sugerida pelo Eduardo Rombauer, integrante do Conselho Editorial de Página22, como forma de abordar os acontecimentos no Oriente Médio. Nascida na Síria, Bassma hoje vive na França e dirige a Arab Reform Initiative. Além de ouvir alguém que há anos pesquisa os movimentos democráticos no mundo árabe, a ideia era trazer uma voz feminina para o debate. Ela foi receptiva ao pedido de entrevista, especialmente porque vinha do Brasil, país que ela considera inspirador para nações que começam a romper com o autoritarismo. Interessante ver como a Primavera Árabe, que Bassma descreveu tão bem como um movimento pela dignidade, acabou inspirando outros importantes movimentos mundo afora.” (Flavia Pardini, colaboradora e jornalista fundadora da Página22)
13) Melhores Retratos
“Belo pra mim” (edição 48 – fevereiro )
Na edição que abordou a identidade do brasileiro, o ensaio trouxe imagens fotografadas pela nova classe média do País. As pessoas receberam uma máquina com a missão de registrar o que consideravam bonito e digno de registro. Apareceram imagens que representam o que é acessível a esse grupo, como a cerveja, o churrasco do fim de semana e o bairro onde moram.
“Gente do rio” (edição 51 – maio)
No ano em que a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte não deixou as notícias e o debate na sociedade em nenhum momento, esse Retrato trouxe uma bela seleção de fotos para nos aproximarmos mais de Altamira, a cidade mais próxima do local da usina.
14) Melhores Últimas
“Natureza-Viva” (edição 50 – abril)
“Para a memória ficar” (edição 51 – maio)