O amor à natureza de fato nunca foi moeda corrente na Casa Branca. Poucos presidentes, como Teddy Roosevelt, que transformou 93 milhões de hectares em parques nacionais, são lembrados com carinho pelos ambientalistas.
Mas, se acreditarmos em promessas de candidatos, isso está para mudar. Pela primeira vez na História a questão ambiental terá peso importante nas eleições presidenciais americanas.
Três dos pré-candidatos com boas chances de ser indicados por seus partidos têm dado amplas demonstrações públicas de sua preocupação com o aquecimento global. No campo dos republicanos, temos o senador John McCain, que em 2003 apresentou a proposta de criação de um mercado interno de créditos de carbono.
Do lado dos democratas, Barack Obama e Hillary Clinton têm feito críticas pesadas à intransigência de George W. Bush, cada vez mais isolado na sua rejeição ao Protocolo de Kyoto. Para o senador Obama, que gostaria de ser o primeiro presidente negro do país, a decisão de não liderar essa discussão foi “imperdoável”. Já a ex-primeira-dama classificou a atitude de Bush de “antiamericana”.
É curioso observar que eles levantam uma bandeira que ficou bem guardada no armário durante a campanha de 2000, quando um ambientalista legítimo, Al Gore, preferiu manter-se discreto sobre o tema, a despeito de sua militância histórica, que remonta aos anos 60. Alguns analistas acreditam que esse foi um erro que lhe custou votos importantes — que migraram para Ralph Nader, do nanico Partido Verde.
Matthew Nisbet, professor da Escola de Comunicação da American University, em Washington, fez um exercício interessante de avaliação da cobertura sobre o aquecimento global em anos de eleições presidenciais. Descobriu que ela sofreu quedas bruscas em 1996, 2000 e 2004. A única exceção na série foi 1992 — ano da Cúpula da Terra, no Rio de Janeiro.
A explicação, acredita Nisbet, está nas reticências do Partido Democrata,
que, segundo o acadêmico, parece evitar o tema para não perder votos em estados fortemente industrializados. Além disso, a mídia tenderia a despender muita energia explorando temas eleitorais mais clássicos, como a política externa ou o nível de impostos, deixando pouco espaço para o debate ambiental.
Mas isso também deve mudar em 2008. E os Estados Unidos não são o único país onde a discussão climática promete incendiar os debates pré-eleitorais. O primeiro-ministro da Austrália, John Howard, tem declarado que o tema terá destaque nas eleições legislativas do final deste ano.
Quem imaginaria que Howard, defensor ardoroso da energia nuclear e um dos principais responsáveis pela recusa de adesão de seu país ao Protocolo de Kyoto, algum dia admitiria que a Austrália precisa de mudanças radicais e urgentes para conter as mudanças climáticas.
A maior seca dos últimos 100 anos e a pressão da opinião pública australiana obrigaram Howard a virar a casaca, a ponto de declarar apoio ao comércio de créditos de carbono. Entretanto, depois da divulgação do último relatório do IPCC, o primeiro-ministro deixou claro que é ecologista — ma non troppo. Reiterou que seu país não assinará Kyoto nos moldes atuais.
A questão ambiental também contará pontos na próxima eleição presidencial francesa, em abril. A candidata do Partido Socialista, Ségolène Royal, liderou a delegação do seu país na Eco-92, quando ocupava o Ministério do Meio Ambiente. Para indicar que também entende do assunto, seu principal rival, o atual ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, apressou-se em reunir-se com Al Gore, em dezembro último, e a declarar que “o desenvolvimento sustentável é uma questão tão fundamental que não pode ser propriedade de um único partido, só porque a sua cor é verde”.
Outro ex-ministro do Meio Ambiente, o canadense Stéphane Dion, está em plena ascensão política e acaba de assumir a liderança do Partido Liberal, de oposição. Por fim, vale a pena notar o crescimento dos Verdes na Alemanha e na Áustria.
Evidentemente, o tema ambiental ganha terreno na arena política devido à pressão do eleitorado – e não por uma súbita epifania dos caciques partidários. No caso dos EUA, pelo menos 2 milhões de americanos assistiram ao libelo de Al Gore sobre o aquecimento global — o filme Uma Verdade Inconveniente – e ainda estão frescas na memória nacional as imagens de destruição dos furacões Katrina e Rita. Resta saber se os eleitores serão capazes de identificar os demagogos sob a pele de ambientalistas.