Por Flavio Lobo
Habitualmente citada como uma das principais obras da dramaturgia nacional, Rasga Coração, de Oduvaldo Vianna Filho, passou quase 28 anos ausente dos palcos do Rio de Janeiro e de São Paulo. Esse período encerrou-se quando um excelente espetáculo, dirigido por Dudu Sandroni, estreou no Teatro Glória, no Rio, em março. Além do talento de Vianinha e dos profissionais envolvidos, em cena e fora dela, a montagem revelou a atualidade do texto.
A tendência de identificar Rasga Coração como datado e panfl etário, que explica sua longa
ausência dos palcos, demonstra o conservadorismo do culto ao “novo”. Aliás, uma característica nacional que a peça exibe em cores vivas: a celebração convulsiva de novidades que nada mudam. Mas, em sua última obra, terminada meses antes da morte precoce, aos 38 anos, em 1974, o autor percebe também a ascensão de temas que escapam desse círculo.
O embate central de Rasga Coração é entre um militante de esquerda e seu filho convertido à cultura hippie. Em meio ao hedonismo do garoto, facilmente criticado pelo interlocutor, emerge um discurso ambientalista diante do qual o repertório paterno mostra-se insuficiente. E, mesmo que de maneira embrionária, a preocupação com a natureza, a vida e o planeta ensaia recuperar a disposição para compromissos coletivos, enfraquecida pela derrocada das utopias políticas do século XX. Possibilidade que, ainda hoje, está longe de ser claramente enxergada e compreendida.
A temporada carioca terminou no dia 1º de julho. Quatro encenações, entre os dias 14 e 22 deste mês, integrarão o Festival de Inverno do Sesc, em Petrópolis, Teresópolis e Friburgo, na região serrana do Rio. Depois disso, conta Sandroni, a intenção da equipe é rasgar corações paulistanos.