Por Amália Safatle
Trata-se de uma campanha implacável: a indústria automobilística bombardeia o público nas tevês e outras mídias a um ponto que parece não haver outra saída a não ser comprar um automóvel zero, facilitado em até suaves 80 prestações.
O resultado é que, em uma cidade de trânsito caótico como São Paulo, 500 novos automóveis por dia passam a circular, ou melhor, a ficar presos nos congestionamentos. Até o momento em que a própria indústria começa a ficar preocupada com o “apagão viário” que está por vir nos centros urbanos.
Símbolo de status, liberdade e conforto, o automóvel hoje se mostra como pivô da poluição, da má ocupação do espaço público e da perda de qualidade de vida nas cidades. Por isso, tornou-se motivo de uma campanha oposta, e infelizmente menos ostensiva: o Dia Mundial Sem Carro. Lançada mundialmente, foi incorporada na capital paulistana pelo Movimento Nossa São Paulo, iniciativa voltada à construção de uma cidade melhor para os moradores.
O dia é 22 de setembro, que este ano cai num sábado. Em São Paulo, uma série de atividades culturais e esportivas está programada. O objetivo, diz Oded Grajew, que encabeça o movimento, é levantar a questão e provocar um debate entre autoridades e cidadãos sobre caminhos alternativos aos sistemas que privilegiam o transporte individual.
“Há um paralelo muito grande disso com a questão do tabaco. O cigarro também foi vendido em grandes campanhas publicitárias, apresentado como símbolo de status, de atitude, mas pouco se alertava para o teor suicida desse consumo. Com os automóveis é a mesma coisa”, diz Grajew. Por isso, ele acredita que uma nova consciência está a caminho, e ela vem sem carro.