Foi graças ao engenho humano que chegamos onde chegamos: 6,6 bilhões de pessoas sobre o planeta e comida suficiente para alimentar a todos – ainda que mal distribuída. Mas, quando a tecnologia parecia ter-nos livrado das “leis” de Malthus – descontrole demográfico e a limitação produtiva —, a crise ambiental volta a pôr a humanidade diante do desafio de controlar, racional e pacificamente, seu próprio desenvolvimento.
Por meio da tecnologia, desde a Idade da Pedra, o homem adquiriu a capacidade de modificar as cadeias alimentares em seu benefício, mas o grande salto veio nos anos 60 com a Revolução Verde e a agricultura industrial, que recorreu aos combustíveis fósseis para garantir a certeza da colheita. O resultado foi o aumento dramático na capacidade de expansão da população humana, mas não a distribuição igualitária dos benefícios. Enquanto entre os países ricos a abundante oferta de alimentos industrializados traz problemas graves como obesidade e doenças cardíacas, bolsões de fome persistem mundo afora.
Em vários lugares há mostras de que as práticas agrícolas modernas prejudicam os sistemas complexos e diversos que compõem os ambientes naturais e permitem ao homem dispor de uma variedade quase inacreditável de alimentos. O elo mais direto do homem com o planeta é a comida – em última instância, ela vem da terra.
Embora as previsões sejam de estabilização no crescimento populacional nas próximas décadas, os desafios que se colocam não são pequenos. De onde virá o alimento para matar a fome de todos? Haverá suporte natural para tanto, ainda mais sob condições climáticas extremas? Será possível, como sugere, em entrevista nesta edição, o economista Ricardo Abramovay, praticar uma agricultura mais “limpa” e socialmente integrada ao processo de desenvolvimento? Mais uma vez a resposta a essas perguntas dependerá da engenhosidade humana. Fome, de comida e de futuro, não faltam. Resta saciá-la.
BOA LEITURA