Pode uma empresa almejar a sustentabilidade em uma sociedade não sustentável? Dizem estudiosos do mundo corporativo que a tendência das organizações é se tornarem cada vez mais porosas, convidadas a interagir com mais atores. Se há uma linha evolutiva a ser traçada, desde a qualidade total até a sustentabilidade, é a da expansão de círculos ao seu redor. Primeiro foram provocadas a se relacionar com o consumidor. Depois, com a comunidade no entorno. Em seguida, a sociedade como um todo. E agora, o planeta.
Pesquisas mostram, no entanto, que as expectativas crescentes sobre o papel das companhias estão longe de ser atendidas. Fica exposto o nó existente entre elas e a sustentabilidade: criadas para aglutinar capital, competir e crescer, deparam-se com a nova agenda da cooperação, da distribuição de benefícios e da adequação às restrições impostas pela natureza.
Assim como o setor privado, as políticas sociais estão em uma encruzilhada no Brasil, e também vivem a sua hora da verdade. Enquanto o governo federal se propõe a abarcar bolsões de pobreza urbana no campo da cidadania, por meio da oferta de infra-estrutura, moradia e segurança, a velha abordagem beligerante de combate ao crime nas áreas pobres ganha força em setores da sociedade e do poder público, como mostra reportagem nesta edição.
Não por acaso, pesquisa recente do Ibope revelou uma elite econômica brasileira descrente das instituições democráticas e que deposita nas Forças Armadas suas maiores doses de confiança. Mas não será sob a tropa de capitães Nascimento que os nós vão se desatar.