A incerteza pode aumentar a segurança. Pelo menos no trânsito: ruas desenhadas para deixar os motoristas e os pedestres incertos sobre quem tem prioridade pode ajudar a diminuir a velocidade dos veículos e a salvar vidas. É o que diz o relatório Travel is Good, sobre como será o trânsito na Inglaterra em 2030, elaborado pelas autoridades de tráfego inglesas e publicado em fevereiro.
Guardrails, placas de sinalização, luzes e linhas causam acidentes, segundo o relatório, porque as pessoas assumem que esses elementos tornam o trânsito mais seguro e, conseqüentemente, prestam menos atenção no que os outros usuários das ruas estão fazendo.
Por trás da idéia está o conceito de “espaço compartilhado”, pelo qual carros e pedestres são iguais e têm de negociar entre si para usar o espaço. Foi com base nele que a cidade holandesa de Drachten, há alguns anos, removeu os sinais de trânsito em um cruzamento usado por cerca de 20 mil motoristas por dia. O número de acidentes caiu de 36 nos quatro anos anteriores à mudança para 2 nos dois anos seguintes. O tempo médio para que um carro atravesse o cruzamento diminuiu de 50 para 30 segundos.
Além da auto-organização do tráfego, o relatório inglês é favorável à cobrança de pedágio para evitar congestionamentos e poluição nos centros das cidades, mas recomenda o investimento em modos de transporte alternativo. Alerta que a mudança climática é uma realidade e rejeita os biocombustíveis como substitutos do petróleo — a saída, segundo as autoridades, é investir no hidrogênio como o combustível do transporte do futuro.