Os 200 anos da abertura dos portos às nações amigas de Portugal não escaparam de comemorações variadas e homenagens no Carnaval. Tida como marco da emancipação brasileira, prenúncio da Independência proclamada 14 anos depois, a abertura, na verdade, mostrou que o País continuava subserviente, mas ao poderio inglês. Hoje ainda é possível identifi car a força política das nações pelas relações de comércio. O Brasil, por exemplo, que se mantém majoritariamente exportador de commodities, é passível de sanções de ordem sanitária, social e ambiental, como nos casos da carne e do etanol.
Difícil traçar a linha entre o protecionismo por parte das nações desenvolvidas e a exigência legítima por práticas sustentáveis, com as quais a sociedade só tem a ganhar – não apenas a mundial, mas, em particular, a brasileira. Adequar-se não signifi ca capitular. Ao contrário, leva a aprimorar a produção e ganhar vantagem competitiva.
A busca por certifi cação de processos e mercadorias pode ser mais que uma aliada no comércio mundial, pois valoriza os ativos humanos e ambientais. Pode também moldar os mercados – não necessariamente virtuosos, lembra o embaixador Rubens Ricupero, em entrevista nesta edição. E, assim, promover os valores de justiça, igualdade e preservação ambiental.
Não é, contudo, panacéia. Pode ser capturada por interesses privados, ainda mais em um país em que o loteamento do Estado e o sucateamento de natureza política e ética são visíveis a olho nu. Para incorporar os benefícios da certifi cação ao modus operandi brasileiro, além de empenho para superar tendências históricas, é preciso sensibilidade, ousadia e vontade de embarcar na experiência do desenvolvimento sustentável.
Uma boa fonte para iluminar o caminho é a criatividade, recurso abundante no caldo cultural brasileiro – que pode tornar-se motor da economia – e fundamental em um mundo onde é preciso repensar tudo.