A plataforma ambiental dos presidenciáveis nos EUA ainda se apóia no medo das mudanças climáticas. Ninguém dá pelota para outros temas fundamentais, como a água ou a biodiversidade
Que a questão ambiental ganhou status sem precedentes na disputa presidencial americana nem se discute. Mas será queo fervor ambientalista dos prováveis candidatos – o republicano John McCain e os democratas Hillary Clinton e Barack Obama (pré-candidatos até o fechamento desta edição) – passa por uma análise cuidadosa?
Como era de esperar, McCain come poeira nessa corrida. Justo ele, que construiu uma reputação de engajamento na luta contra as mudanças climáticas por ter sido o primeiro a apresentar no Senado um projeto que limitava as emissões industriais de carbono. Mais importante, ele peitou George W. Bush, para quem o aquecimento global não passa de ficção. McCain chegou a classificar a postura do presidente, seu colega de partido, de “desgraça”.
Mas McCain não é assim nenhum Al Gore. Segundo a League of Conservation Voters – organização que policia o desempenho ambiental dos políticos americanos,o senador teve o a pior nota entre 535 membros do Congresso no ano passado.Ganhou zero porque esteve ausente nas 15 sessões em que foram votados temas particularmente relevantes do ponto de vista ambiental. Conseguiu a façanha de ficar atrás de congressistas que morreram ao longo do ano.
Em uma das ausências, a proposta de eliminar vantagens fiscais de grandes produtoras de petróleo e transferir os recursos arrecadados para a promoção das energias limpas perdeu por apenas um voto. Para Carl Pope, diretor-executivo do respeitado Sierra Club, uma das maiores ONGs ambientalistas do país, “ele tem um padrão de votação que segue poluidores e interesses particulares, e não os consumidores e o planeta”.
Verdade seja dita, a League of Conservation Voters deu uma nota um pouco melhor ao “conjunto da obra” do candidato republicano – 24. Ainda assim, bem inferior à média de 53 registrada pelos congressistas no ano passado. Barack Obama e Hillary Clinton também tiveram desempenho fraco por gastarem muito tempo na estrada, em campanha. Entretanto, eles faltaram a apenas quatro das 15 votações consideradas essenciais pela LCV. Obama, que recebeu nota 86 pelo seu histórico, teve nota 67 no ano passado. Hillary, com 87 ao longo de sua carreira, ganhou 73 em 2007.
Projeto Apolo da Energia
Os dois candidatos democratas têm programas ambientais bastante parecidos. Ambos prometem criar “empregos verdes” (5 milhões para Hillary, 2 milhões para Obama). Ela quer US$ 50 bilhões para um fundo que promova as energias limpas. Ele fala em um “Projeto Apolo da Energia” – em referência à conquista da Lua – que poria US$ 150 bilhões ao longo de dez anos no desenvolvimento de biocombustíveis e outras fontes renováveis.
Os dois querem estabelecer padrão mínimo de consumo de gasolina pelos automóveis de 21 quilômetros por litro. Ambos defendem que um quarto da matriz energética dos EUA seja renovável até 2025 e haja redução de 80% das emissões nacionais de carbono até 2050. Eles pretendem reduzir drasticamente o uso de lâmpadas incandescentes e incentivar os novos edifícios federais a buscar balanço zero de emissões de carbono – mas com uma diferença. Para ela, seria até 2009. Para ele, até 2025.
Entretanto, é bom notar que Obama, que tem apoio do lobby do carvão e da energia nuclear, defende o aumento do uso desta fonte. Hillary é contra a expansão nuclear, enquanto não forem reduzidos os riscos da disposição dos resíduos do setor.
São propostas, no mínimo, animadoras. Mas preste atenção no detalhe: ninguém dá a menor pelota para outras questões ambientais fundamentais, como a conservação da água ou a perda da biodiversidade.
Como é costume, os políticos respondem a uma demanda de mercado – o medo generalizado das mudanças climáticas. E, infelizmente, outros temas importantes ainda não mobilizam devidamente o eleitorado.Gene Karpinski, presidente da League of Conservation Voters, diz que nas eleições de 2006 para o Congresso ficou claro que os eleitores independentes migraram em grandes levas para o voto democrata e que “de longe, a principal razão é a política energética”. E esta nunca esteve tão ligada à questão ambiental.
O eleitor que entender que as plataformas dos candidatos democratas e a do republicano não são engajadas o suficiente, e quiser votar em um ambientalista linhadura, sempre pode apostar no azarão Ralph Nader. O candidato, que saiu pelo Partido Verde na eleição passada e desta vez concorre como independente, é um líder nacional da luta pelos direitos do consumidor e inimigo jurado das grandes corporações. Ao contrário dos rivais, é pela taxação das emissões de carbono e pelo banimento da energia nuclear.
Mas o furibundo Nader é apontado como um dos responsáveis pela dispersão de votos que garantiu a vitória de Bush sobre Al Gore na eleição de 2000. Quem votar nele deverá ter a consciência de que, mais uma vez, estará dando um presente aos republicanos. E cada vez menos americanos querem ver esse filme novamente.
A plataforma ambiental dos presidenciáveis nos EUA ainda se apóia no medo das mudanças climáticas. Ninguém dá pelota para outros temas fundamentais, como a água ou a biodiversidade
Que a questão ambiental ganhou status sem precedentes na disputa presidencial americana nem se discute. Mas será queo fervor ambientalista dos prováveis candidatos – o republicano John McCain e os democratas Hillary Clinton e Barack Obama (pré-candidatos até o fechamento desta edição) – passa por uma análise cuidadosa?
Como era de esperar, McCain come poeira nessa corrida. Justo ele, que construiu uma reputação de engajamento na luta contra as mudanças climáticas por ter sido o primeiro a apresentar no Senado um projeto que limitava as emissões industriais de carbono. Mais importante, ele peitou George W. Bush, para quem o aquecimento global não passa de ficção. McCain chegou a classificar a postura do presidente, seu colega de partido, de “desgraça”.
Mas McCain não é assim nenhum Al Gore. Segundo a League of Conservation Voters – organização que policia o desempenho ambiental dos políticos americanos,o senador teve o a pior nota entre 535 membros do Congresso no ano passado.Ganhou zero porque esteve ausente nas 15 sessões em que foram votados temas particularmente relevantes do ponto de vista ambiental. Conseguiu a façanha de ficar atrás de congressistas que morreram ao longo do ano.
Em uma das ausências, a proposta de eliminar vantagens fiscais de grandes produtoras de petróleo e transferir os recursos arrecadados para a promoção das energias limpas perdeu por apenas um voto. Para Carl Pope, diretor-executivo do respeitado Sierra Club, uma das maiores ONGs ambientalistas do país, “ele tem um padrão de votação que segue poluidores e interesses particulares, e não os consumidores e o planeta”.
Verdade seja dita, a League of Conservation Voters deu uma nota um pouco melhor ao “conjunto da obra” do candidato republicano – 24. Ainda assim, bem inferior à média de 53 registrada pelos congressistas no ano passado. Barack Obama e Hillary Clinton também tiveram desempenho fraco por gastarem muito tempo na estrada, em campanha. Entretanto, eles faltaram a apenas quatro das 15 votações consideradas essenciais pela LCV. Obama, que recebeu nota 86 pelo seu histórico, teve nota 67 no ano passado. Hillary, com 87 ao longo de sua carreira, ganhou 73 em 2007.
Projeto Apolo da Energia
Os dois candidatos democratas têm programas ambientais bastante parecidos. Ambos prometem criar “empregos verdes” (5 milhões para Hillary, 2 milhões para Obama). Ela quer US$ 50 bilhões para um fundo que promova as energias limpas. Ele fala em um “Projeto Apolo da Energia” – em referência à conquista da Lua – que poria US$ 150 bilhões ao longo de dez anos no desenvolvimento de biocombustíveis e outras fontes renováveis.
Os dois querem estabelecer padrão mínimo de consumo de gasolina pelos automóveis de 21 quilômetros por litro. Ambos defendem que um quarto da matriz energética dos EUA seja renovável até 2025 e haja redução de 80% das emissões nacionais de carbono até 2050. Eles pretendem reduzir drasticamente o uso de lâmpadas incandescentes e incentivar os novos edifícios federais a buscar balanço zero de emissões de carbono – mas com uma diferença. Para ela, seria até 2009. Para ele, até 2025.
Entretanto, é bom notar que Obama, que tem apoio do lobby do carvão e da energia nuclear, defende o aumento do uso desta fonte. Hillary é contra a expansão nuclear, enquanto não forem reduzidos os riscos da disposição dos resíduos do setor.
São propostas, no mínimo, animadoras. Mas preste atenção no detalhe: ninguém dá a menor pelota para outras questões ambientais fundamentais, como a conservação da água ou a perda da biodiversidade.
Como é costume, os políticos respondem a uma demanda de mercado – o medo generalizado das mudanças climáticas. E, infelizmente, outros temas importantes ainda não mobilizam devidamente o eleitorado.Gene Karpinski, presidente da League of Conservation Voters, diz que nas eleições de 2006 para o Congresso ficou claro que os eleitores independentes migraram em grandes levas para o voto democrata e que “de longe, a principal razão é a política energética”. E esta nunca esteve tão ligada à questão ambiental.
O eleitor que entender que as plataformas dos candidatos democratas e a do republicano não são engajadas o suficiente, e quiser votar em um ambientalista linhadura, sempre pode apostar no azarão Ralph Nader. O candidato, que saiu pelo Partido Verde na eleição passada e desta vez concorre como independente, é um líder nacional da luta pelos direitos do consumidor e inimigo jurado das grandes corporações. Ao contrário dos rivais, é pela taxação das emissões de carbono e pelo banimento da energia nuclear.
Mas o furibundo Nader é apontado como um dos responsáveis pela dispersão de votos que garantiu a vitória de Bush sobre Al Gore na eleição de 2000. Quem votar nele deverá ter a consciência de que, mais uma vez, estará dando um presente aos republicanos. E cada vez menos americanos querem ver esse filme novamente.
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