Qual o risco de viver em meio ao bombardeio eletromagnético que permite celulares e notebooks onipresentes?
As ondas eletromagnéticas chegaram para ficar. Elas alimentam os mais de 3 bilhões de telefones celulares que estão por aí. São a alma da internet banda larga que faz a alegria dos viciados em downloads. De tão atraentes, muitas cidades decidiram universalizar o acesso gratuito e sem fios à web, no esforço de democratizar essa tecnologia. Caso da pequena Piraí, no Vale do Paraíba, ao Sul do estado do Rio de Janeiro, de Hong Kong e Honolulu – esta última, o verdadeiro nirvana dos infomaníacos.
Mas quão arriscado é viver em um mundo em que, graças ao bombardeio eletromagnético, o celular é onipresente e pode-se consultar o Google à beira de um rio ou no meio de uma floresta? Cresce o número de pessoas que se sentem acuadas e dizem sofrer as conseqüências de uma atmosfera tão carregada.
O diário francês Le Monde trouxe recentemente uma reportagem sobre uma série de casos de “eletrossensibilidade” registrados na Suécia. Em um deles, Ann Rosenqvist Atterbom passou a usar um capacete anti-radiação para evitar enxaquecas, eritemas, náuseas, distúrbios da concentração, vertigens e formigamentos que atribui aos excessos tecnológicos da vida moderna. Sua conterrânea Sylvia Lindholm recebeu 18 mil euros do governo para reformar seu apartamento, instalando cortinas-escudos e filtros sobre os vidros das janelas, para manter os campos eletromagnéticos à distância.
Embora incomum, a eletrossensibilidade não parece ser um fenômeno isolado. A prefeitura de Paris, que lançou uma ampla rede de internet sem fio em meados do ano passado, teve de voltar atrás e desativar o sistema em quatro bibliotecas municipais, após receber uma série de reclamações dos funcionários desses estabelecimentos que tiveram dor de cabeça e vertigem.
Veredicto nebuloso
A suspeita de que as ondas eletromagnéticas podem ser nocivas à saúde não é novidade. A Organização Mundial da Saúde lançou em 1996 um programa destinado a investigar tal possibilidade. Entretanto, como é comum na área, as pesquisas parecem apontar em direções diversas e o veredicto continua bastante nebuloso.
Um bom exemplo são os resultados díspares obtidos por duas pesquisas divulgadas em 2006 e que tentaram associar a ocorrência de câncer ao uso de celulares. A primeira, elaborada pela Universidade de Örebro, na Suécia, apresentou evidências concretas de que celulares e telefones fixos sem fio podem ter um componente cancerígeno. E indicou que seu uso constante e intenso – pelo menos uma hora diária por mais de dez anos – poderia aumentar em até 240% o risco de desenvolvimento de tumores cerebrais no lado da cabeça em que o usuário costuma encostar o aparelho.
A segunda pesquisa, realizada pelas universidades britânicas de Leeds, Nottingham e Manchester e o Institute of Cancer Research, chegou à conclusão oposta: não encontrou relação de causalidade entre o uso de celulares e a ocorrência de gliomas – o tipo mais comum de câncer de cérebro.
A Food and Drug Administration (FDA), agência federal americana que regulamenta, entre outras coisas, a utilização de aparatos que emitem algum tipo de radiação, chegou a questionar os resultados obtidos pelos pesquisadores suecos. Para a entidade, as conclusões são de “difícil interpretação” e contradizem uma série de estudos produzidos anteriormente. A OMS também não vê evidências de riscos relevantes, até porque os níveis típicos de exposição seriam muito inferiores aos aconselhados.
Outras organizações preferem recomendar prudência. A Universidade de Lakehead, em Ontário, no Canadá, baniu o wi-fi por decisão de seu reitor, Fred Gilbert, que invocou o princípio da precaução. Na mesma linha, a Agência Ambiental Européia pediu no ano passado que os governos da região reduzissem a exposição a campos eletromagnéticos, argumentando que os limites aprovados hoje são excessivamente generosos.
Jacqueline McGlade, diretora-executiva da agência, declarou que “pesquisas recentes sugerem que seria prudente que as autoridades sanitárias recomendassem ações que reduzissem a exposição, especialmente de grupos vulneráveis, como as crianças”.
Ela lembrou os casos do amianto, do chumbo na gasolina e do tabaco – substâncias de uso difundido que só com o passar do tempo tiveram seus riscos comprovados.
No futuro, os campos eletromagnéticos poderiam integrar essa lista.
Pobres de nós, que amamos nossos celulares e notebooks.
Qual o risco de viver em meio ao bombardeio eletromagnético que permite celulares e notebooks onipresentes?
As ondas eletromagnéticas chegaram para ficar. Elas alimentam os mais de 3 bilhões de telefones celulares que estão por aí. São a alma da internet banda larga que faz a alegria dos viciados em downloads. De tão atraentes, muitas cidades decidiram universalizar o acesso gratuito e sem fios à web, no esforço de democratizar essa tecnologia. Caso da pequena Piraí, no Vale do Paraíba, ao Sul do estado do Rio de Janeiro, de Hong Kong e Honolulu – esta última, o verdadeiro nirvana dos infomaníacos.
Mas quão arriscado é viver em um mundo em que, graças ao bombardeio eletromagnético, o celular é onipresente e pode-se consultar o Google à beira de um rio ou no meio de uma floresta? Cresce o número de pessoas que se sentem acuadas e dizem sofrer as conseqüências de uma atmosfera tão carregada.
O diário francês Le Monde trouxe recentemente uma reportagem sobre uma série de casos de “eletrossensibilidade” registrados na Suécia. Em um deles, Ann Rosenqvist Atterbom passou a usar um capacete anti-radiação para evitar enxaquecas, eritemas, náuseas, distúrbios da concentração, vertigens e formigamentos que atribui aos excessos tecnológicos da vida moderna. Sua conterrânea Sylvia Lindholm recebeu 18 mil euros do governo para reformar seu apartamento, instalando cortinas-escudos e filtros sobre os vidros das janelas, para manter os campos eletromagnéticos à distância.
Embora incomum, a eletrossensibilidade não parece ser um fenômeno isolado. A prefeitura de Paris, que lançou uma ampla rede de internet sem fio em meados do ano passado, teve de voltar atrás e desativar o sistema em quatro bibliotecas municipais, após receber uma série de reclamações dos funcionários desses estabelecimentos que tiveram dor de cabeça e vertigem.
Veredicto nebuloso
A suspeita de que as ondas eletromagnéticas podem ser nocivas à saúde não é novidade. A Organização Mundial da Saúde lançou em 1996 um programa destinado a investigar tal possibilidade. Entretanto, como é comum na área, as pesquisas parecem apontar em direções diversas e o veredicto continua bastante nebuloso.
Um bom exemplo são os resultados díspares obtidos por duas pesquisas divulgadas em 2006 e que tentaram associar a ocorrência de câncer ao uso de celulares. A primeira, elaborada pela Universidade de Örebro, na Suécia, apresentou evidências concretas de que celulares e telefones fixos sem fio podem ter um componente cancerígeno. E indicou que seu uso constante e intenso – pelo menos uma hora diária por mais de dez anos – poderia aumentar em até 240% o risco de desenvolvimento de tumores cerebrais no lado da cabeça em que o usuário costuma encostar o aparelho.
A segunda pesquisa, realizada pelas universidades britânicas de Leeds, Nottingham e Manchester e o Institute of Cancer Research, chegou à conclusão oposta: não encontrou relação de causalidade entre o uso de celulares e a ocorrência de gliomas – o tipo mais comum de câncer de cérebro.
A Food and Drug Administration (FDA), agência federal americana que regulamenta, entre outras coisas, a utilização de aparatos que emitem algum tipo de radiação, chegou a questionar os resultados obtidos pelos pesquisadores suecos. Para a entidade, as conclusões são de “difícil interpretação” e contradizem uma série de estudos produzidos anteriormente. A OMS também não vê evidências de riscos relevantes, até porque os níveis típicos de exposição seriam muito inferiores aos aconselhados.
Outras organizações preferem recomendar prudência. A Universidade de Lakehead, em Ontário, no Canadá, baniu o wi-fi por decisão de seu reitor, Fred Gilbert, que invocou o princípio da precaução. Na mesma linha, a Agência Ambiental Européia pediu no ano passado que os governos da região reduzissem a exposição a campos eletromagnéticos, argumentando que os limites aprovados hoje são excessivamente generosos.
Jacqueline McGlade, diretora-executiva da agência, declarou que “pesquisas recentes sugerem que seria prudente que as autoridades sanitárias recomendassem ações que reduzissem a exposição, especialmente de grupos vulneráveis, como as crianças”.
Ela lembrou os casos do amianto, do chumbo na gasolina e do tabaco – substâncias de uso difundido que só com o passar do tempo tiveram seus riscos comprovados.
No futuro, os campos eletromagnéticos poderiam integrar essa lista.
Pobres de nós, que amamos nossos celulares e notebooks.*Jornalista especializada em meio ambiente
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