Por Amália Safatle
O estudo divulgado em agosto pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e pela Unicamp – Aquecimento Global e a Nova Geografia da Produção Agrícola no Brasil -, que estima as perdas em nove culturas em face das mudanças climáticas, representa só o começo de uma série de pesquisas que prometem mergulhar nesse campo. Em janeiro deve se iniciar um projeto, com duração de quatro anos, destinado a avaliar o impacto sobre 30 espécies, entre grãos (soja, milho, trigo, sorgo, arroz e feijão), frutíferas (pêssego, maçã, pêra, uva, banana, manga e coco), industriais (mamona, algodão, girassol, mandioca e laranja), plantas forrageiras e essências florestais em todos os biomas brasileiros.
Coordenado por Giampaolo Queiroz Pellegrino, pesquisador em mudanças climáticas da Embrapa, o projeto vai se realizar em parceria com 15 instituições científicas. Pellegrino, que participou do estudo publicado há dois meses, pretende descobrir, por exemplo, qual será o efeito da maior concentração de dióxido de carbono e da elevação da temperatura sobre as culturas.
Segundo ele, diante do aumento de pelo menos 2 graus no planeta, duas formas de adaptação podem ser perseguidas na agricultura brasileira. Uma refere-se a técnicas de manejo, como rotação de culturas, plantio direto e sistemas integrados de produção entre lavoura e pecuária (nota abaixo). Essas práticas possibilitam enfrentar um clima mais adverso que o atual, ao melhorar a condição físico-química do solo, incorporar matéria orgânica e diversificar o sistema produtivo.
Isso torna as culturas mais resistentes ao aumento de temperatura e ao déficit hídrico do que nos plantios tradicionais, baseados na mecanização e adubação intensas, frutos da chamada Revolução Verde. São técnicas minimamente conhecidas e à mão do produtor.
A outra forma exige mais investimento, tempo e é tema controverso: trata-se do melhoramento genético, buscando-se, por meio da transgenia, plantas mais resistentes às mudanças do clima – técnicas que, segundo Pellegrino, levam ao menos dez anos para ser desenvolvidas.