Se alguém se dispusesse a medir a Felicidade Interna Bruta (FIB) do mundo hoje, o resultado provavelmente seria chocante. É de se perguntar quem consegue ser totalmente feliz – mesmo no Butão, que lançou a idéia da FIB para espelhar a crença de que não há desenvolvimento material sem o espiritual – em um mundo onde apenas um país, os Estados Unidos, concentra 58% das famílias que ganham mais do que US$ 200 por dia e onde mais de 300 milhões de pessoas só na China não têm acesso à água potável, como mostra o Atlas do Mundo Real, recém-publicado por pesquisadores britânicos e americanos.
No atlas, os diferentes territórios assumem tamanhos relativos, de acordo com o tópico de interesse – de emissões de gases de efeito estufa ao arsenal de armas nucleares de cada um. Mas o que salta aos olhos é a complexidade do mundo que criamos. O recente vendaval nos mercados financeiros adiciona um ingrediente a esta percepção – estamos todos ligados, dos americanos com muito dinheiro no bolso aos chineses sem água para beber, sem falar nos brasileiros que se escondem atrás de muros e vidros fumê e seus conterrâneos que teimam em transpassar os mesmos muros e vidros.
Se compartilhamos os riscos do mercado financeiro – como ficou evidente com os resgates que sugaram trilhões de dólares dos contribuintes –, é preciso urgentemente compartilhar também soluções para emergências como as mudanças climáticas e a dependência do petróleo. A visão de que a crise financeira atrapalha a construção conjunta para lidar com os problemas complexos do presente ignora justamente o que está impresso até em atlas: o mundo mudou. O futuro virá bater à nossa porta.
Com a crise, é premente nos debruçarmos sobre o processo de encontrar soluções, mesmo sabendo que elas podem ter conseqüências não intencionais. Como serão construídas estas soluções, e que cara terão, ainda é uma incógnita, mas a aposta desta revista é que, a partir delas, será possível algum dia imprimir o mapa do mundo segundo a Felicidade Interna Bruta.