No início do ano, ao anunciar o Projeto Pedra de Ferro, que vai explorar minério de ferro no município de Caetité, no sudoeste baiano, os executivos da Bahia Mineração Ltda. (BML) citaram as condições favoráveis do mercado – os chineses concordaram em pagar até 70% a mais pelo produto brasileiro em 2008 – e o forte apoio do governo. Não era para menos: o empreendimento – que inclui a construção de um mineroduto ou ferrovia até Ilhéus e, ali, de um porto – foi incluído no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Agora, com a crise financeira global e perspectivas de crescimento menor na China, restaram apenas o apoio do governo e muita polêmica em Ilhéus, onde o projeto levou à suspensão de investimentos do setor de turismo.
Apesar disso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou o projeto, em cerimônia em Salvador no fim de outubro. “O governo quer manter o otimismo diante da crise e o projeto é símbolo dessa resistência”, diz Rui Rocha, do Instituto Floresta Viva, uma ONG local. Ele alerta que as conseqüências não serão desprezíveis. “O porto vai alterar completamente o perfil vocacional da região.” Para possibilitar a construção do chamado Porto Sul – que será offshore, a 3 quilômetros da orla – na Praia do Norte, o governo estadual desapropriou uma fração da Área de Proteção Ambiental (APA) da Lagoa Encantada e do Rio Almada, por decreto. A medida é contestada na Justiça pela Associação de Turismo de Ilhéus. A mesma região é alvo de empreendimentos turísticos – hotéis e unidades residenciais -, com investimentos estimados em R$ 500 milhões. O PAC prevê ainda, para a mesma região, a construção do aeroporto internacional de Ilhéus