Histórias e ideias de quem lê Página 22
No final dos anos 60, o geólogo José Fernando Gambier já considerava a vida em São Paulo frenética demais. Foi então que aceitou a missão de ir a Goiás para solucionar um mistério de mais de 200 anos: por que o aquífero da região de Caldas Novas (GO) é quente? Descobriu que a água da chuva penetra o subsolo por um sistema chamado de fraturamento. A uma profundidade de 1. 500 metros, a água atinge 50 graus e volta para a superfície, gerando as famosas termas.
Sua descoberta não foi apenas uma contribuição para os anais da ciência. Impediu também que se construísse um aeroporto na serra do município, área de recarga do aqüífero termal. Em lugar do aeroporto foi instalado o Parque Estadual da Serra de Caldas Novas. Mais de 30 anos depois, a cidade cresceu desordenadamente. A ocupação de áreas de preservação permanente (APPs) pode contribuir para contaminação do lençol freático e a cidade ver ameaçado seu principal ganha-pão: o turismo gerado pelas águas quentes.
Gambier avalia o momento atual como “o nascedouro de um novo tempo numa cidade que não fez o que tinha que fazer, mas agora está a fim de retomar o caminho certo”. Sob sua influência, a Associação das Empresas Mineradoras das Águas Termais de Goiás (AMAT) e a prefeitura local vêm desenvolvendo um programa de recuperação de APPs. O geólogo participa ainda de uma bateria de estudos que devem a avaliar a situação atual do aquífero. “Sei que essas mudanças levam tempo. Mas eu já fugi de uma cidade (São Paulo) uma vez, não posso fugir de novo”, diz Gambier. Caldas Novas agradece.
Se você deseja participar desta seção, escreva para redação@pagina22.com.br e conte um pouco sobre você e seus projetos. Para se comunicar com José Fernando Gambier, escreve para geocenter@brturbo.com.br