Pinceladas, o cheiro forte de guache e cores vivas dialogam com marcas impressas em pedaços de papelão recortados de caixas. Lado a lado, pessoas com formações diversas — moradias, visões de mundo, idades, raças, credos, desejos, expectativas. Juntos, sentados na mesa de um ateliê, compartilham o descarte, o refugo industrial como ponto de partida para a troca de afetos e conhecimentos.
Uma capa raras vezes é pintada do começo ao fim por uma única pessoa. Dilui-se a noção de trabalho autoral, promove-se uma nova estética, indissociável da ética. O resultado é uma capa criada pelo Dulcinéia Catadora, um coletivo em São Paulo que reúne artistas, jovens filhos de recicladores de papel e profissionais de outras áreas dispostos a dividir esse ambiente.
Os “livros” incluem contos e poesias de autores conhecidos e desconhecidos, jovens e velhos, letrados e quase iletrados, acadêmicos e moradores de rua. A criação livre e espontânea permite o fazer junto, o entrelaçamento de vivências.