Técnicas agroecológicas e saber tradicional se mesclam em política pública
Por José Alberto Gonçalves
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Um projeto desenvolvido desde 1996 no Acre combina conhecimentos tradicionais e técnicas modernas para melhorar a gestão ambiental e territorial das terras indígenas. Concebido pela Comissão Pró-Índio do Acre, o programa de Agentes Agroflorestais Indígenas foi incluído na política do governo acreano em 2001. Os agentes tornaram-se estratégicos na implementação de planos de gestão por meio de acordos comunitários de caça, pesca e uso racional de recursos naturais. Áreas de refúgio para animais gestantes são estipuladas nos acordos, que também proíbem a pesca com tingui, produto natural que mata os peixes.
Outra incumbência é orientar as comunidades a coletar frutos sem derrubar a mata. Por trás desse arsenal de acordos, técnicas agroecológicas e trabalho de educação ambiental, está um programa de formação que já conta com 126 agentes agroflorestais, representando onze povos indígenas do Acre, que participam anualmente de cursos de 45 dias no Centro de Formação dos Povos da Floresta, um sítio na zona rural de Rio Branco.
Como explica Fabrício Bianchini, coordenador do programa na comissão, ele compreende um curso técnico integrado à educação básica indígena, com materiais didáticos de autoria dos próprios indígenas, pelos quais transmitem saberes sobre animais, plantas e remédios. “Nossa escola funciona como centro irradiador de agrobiodiversidade para as terras indígenas”, diz Bianchini. Para combinar teoria e prática, a escola possui modelos demonstrativos de sistemas agroflorestais, piscicultura, criação de quelônios e de abelhas sem ferrão.
“Muita coisa que fazemos como agentes nossos avós já faziam”, conta Josias Pereira Kaxinawá, presidente da Associação do Movimento dos Agentes Agroflorestais Indígenas do Acre, que reivindica do governo concurso para a contratação dos profissionais, cuja formação foi reconhecida como curso técnico pelo Conselho Estadual de Educação do Acre. Segundo Dinah Rodrigues Borges, gerente da divisão de extensão indígena da secretaria estadual de produção familiar, cursos voltados para indígenas estão sendo promovidos pelo Instituto Dom Moacyr, responsável por formação profissional no Estado. “Isso permitirá que a médio prazo os indígenas se habilitem a concorrer a cargos públicos.”
Dos 126 agentes, 69 foram contemplados com bolsa mensal de R$ 300, oferecida por meio de convênio celebrado entre a Seaprof e o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE). Eles pertencem a oito etnias – Kaxinawá, Yawanawá, Katukina, Manchineri, Ashaninka, Jaminawa, Arara, Nukini e Poyanawa -, representando quase 8.000 indígenas, ou pouco mais da metade da população indígena do Acre.
Existem, contudo, inúmeros desafios a serem enfrentados pelo programa, começando pela própria relação precária do Estado com o projeto, que depende sobretudo de fontes externas para sobreviver. Para Dinah Borges, a maior dificuldade é monitorar em campo as atividades dos agentes por causa das longas distâncias e da escassez de técnicos com perfil para o projeto.
“Procuramos visitar periodicamente as terras indígenas, mas, devido às dificuldades nos trajetos, por vezes ficamos impossibilitados de monitorar avanços e possíveis retrocessos.”
Técnicas agroecológicas e saber tradicional se mesclam em política pública
Um projeto desenvolvido desde 1996 no Acre combina conhecimentos tradicionais e técnicas modernas para melhorar a gestão ambiental e territorial das terras indígenas. Concebido pela Comissão Pró-Índio do Acre, o programa de Agentes Agroflorestais Indígenas foi incluído na política do governo acreano em 2001. Os agentes tornaram-se estratégicos na implementação de planos de gestão por meio de acordos comunitários de caça, pesca e uso racional de recursos naturais. Áreas de refúgio para animais gestantes são estipuladas nos acordos, que também proíbem a pesca com tingui, produto natural que mata os peixes.
Outra incumbência é orientar as comunidades a coletar frutos sem derrubar a mata. Por trás desse arsenal de acordos, técnicas agroecológicas e trabalho de educação ambiental, está um programa de formação que já conta com 126 agentes agroflorestais, representando onze povos indígenas do Acre, que participam anualmente de cursos de 45 dias no Centro de Formação dos Povos da Floresta, um sítio na zona rural de Rio Branco.
Como explica Fabrício Bianchini, coordenador do programa na comissão, ele compreende um curso técnico integrado à educação básica indígena, com materiais didáticos de autoria dos próprios indígenas, pelos quais transmitem saberes sobre animais, plantas e remédios. “Nossa escola funciona como centro irradiador de agrobiodiversidade para as terras indígenas”, diz Bianchini. Para combinar teoria e prática, a escola possui modelos demonstrativos de sistemas agroflorestais, piscicultura, criação de quelônios e de abelhas sem ferrão.
“Muita coisa que fazemos como agentes nossos avós já faziam”, conta Josias Pereira Kaxinawá, presidente da Associação do Movimento dos Agentes Agroflorestais Indígenas do Acre, que reivindica do governo concurso para a contratação dos profissionais, cuja formação foi reconhecida como curso técnico pelo Conselho Estadual de Educação do Acre. Segundo Dinah Rodrigues Borges, gerente da divisão de extensão indígena da secretaria estadual de produção familiar, cursos voltados para indígenas estão sendo promovidos pelo Instituto Dom Moacyr, responsável por formação profissional no Estado. “Isso permitirá que a médio prazo os indígenas se habilitem a concorrer a cargos públicos.”
Dos 126 agentes, 69 foram contemplados com bolsa mensal de R$ 300, oferecida por meio de convênio celebrado entre a Seaprof e o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE). Eles pertencem a oito etnias – Kaxinawá, Yawanawá, Katukina, Manchineri, Ashaninka, Jaminawa, Arara, Nukini e Poyanawa -, representando quase 8.000 indígenas, ou pouco mais da metade da população indígena do Acre.
Existem, contudo, inúmeros desafios a serem enfrentados pelo programa, começando pela própria relação precária do Estado com o projeto, que depende sobretudo de fontes externas para sobreviver. Para Dinah Borges, a maior dificuldade é monitorar em campo as atividades dos agentes por causa das longas distâncias e da escassez de técnicos com perfil para o projeto. “Procuramos visitar periodicamente as terras indígenas, mas, devido às dificuldades nos trajetos, por vezes ficamos impossibilitados de monitorar avanços e possíveis retrocessos.”
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