Dar um panorama das mudanças climáticas e sua relação com o mundo empresarial foi o foco da palestra realizada em 19/5, na I Semana de Sustentabilidade da FGV. Com mediação da coordenadora-adjunta do GVces Rachel Biderman, a exposição contou com Alexandre Paris, diretor de sustentabilidade da Pricewaterhous Coopers, que trouxe o exemplo concreto de como a questão é trabalhada numa grande empresa de consultoria.
Paris fez uma breve explicação técnica do papel do gás carbônico (CO2) na temperatura do planeta. “O efeito estufa é um fenômeno essencial para o equilíbrio da Terra, mas, em excesso, torna-se prejudicial.” A necessidade de pensar no longo prazo e agir agora, embasada pelas relações intergeracionais foi destacada pelo diretor de sustentabilidade e retoma diversas vezes durante o ciclo de palestras. “Grandes empresas e empresários passam a incorporar a visão sustentável e a co-responsabilidade pelo futuro da próximas gerações em seus negócios atuais.”
Ao abordar o tema do mercado de carbono, que movimenta volume considerável de capital, tem grande volatilidade e começa a apresentar alguns resultados concretos na redução de gases emitidos na atmosfera, Alexandre Paris chamou atenção para o papel ainda incipiente do Brasil como vendedor de créditos de emissão, a situação da China como maior vendedora de créditos de carbono- por razões muito mais econômicas e situacionais do que ambientais – e o papel do Reino Unido como maior comprador nesse mercado.
Já Pedro Sirgado, diretor do Instituto EDP (http://www.energiasdobrasil.com.br/energia/), destacou a posição de destaque do Brasil no panorama energético, com condições climáticas e recursos naturais favoráveis às energias limpas, além de citar iniciativas da subsidiária brasileira do grupo, a Energias do Brasil, com projetos de energia eólica, hidráulica e térmica.
Antes que os mais atentos apontassem que, de fato, uma usina térmica seria uma hipocrisia e uma inversão de valores na busca pela redução da emissão de gases danosos ao meio ambiente, Pedro Sirgado explicou que essa foi uma decisão difícil a ser tomada, motivada pelo momento crítico pelo qual o país passava: a crise do apagão. O palestrante ainda fez uma provocação: “O que seria mais danoso para a sustentabilidade da sociedade brasileira dado o contexto eminente: uma usina de carvão ou a falta de energia em larga escala?”
Seguindo a trilha de temas polêmicos, o palestrante levantou um assunto que muitos evitam colocar em discussão. “A energia é fundamental para o funcionamento da sociedade moderna, mas a produção não conseguirá suprir a demanda crescente.” Remetendo à teoria de Malthus e soando um pouco sensacionalista, Sirgado trouxe a visão de quem trabalha no setor energético e conhece as atuais capacidades e tecnologias produtivas, o que torna a afirmação digna de reflexão.
Paulo Sirgado também falou sobre o mercado de carbono e abordou o papel do “carbono social”, dando como exemplo a dinâmica do Instituto EDP, cujas operações são financiadas pela venda de créditos de carbono dos projetos do grupo como um todo. Ele revelou ainda que uma das metas do grupo é incentivar a eficiência energética doméstica, incentivando o consumidor a utilizar melhor e menos a energia que lhe é disponibilizada. Práticas executadas pela empresa vão desde subsidiar a troca de geladeiras antigas e chuveiros com aquecimento elétrico para chuveiros com aquecimento solar até indicar na folha da conta de luz a emissão de CO2 gerada naquela residência.
Pode parecer contraditório uma empresa que produz e vende energia incentivar a redução de consumo por parte de seu mercado-alvo, mas essa é uma estratégia que envolve não somente responsabilidade social como acredita que o pensamento deve se dar ao longo prazo, mas a atitude deve repercutir no agora. “Se o consumo de energia seguir em ritmo acelerado e os índices de desperdício se mantiverem potencialmente altos, é provável que num futuro não muito distante haja um colapso. Isso afetaria de maneira direta as empresas do setor energético,” explicou Paulo Sirgado.
Sentindo na pele
A mediadora convidada para a sessão de perguntas, Raquel Biderman, mencionou que o clima está na pauta atual, não só por parte dos governos, mas também no setor privado e na sociedade em geral: “Muitos efeitos do aquecimento global já começam a ser visíveis aos habitantes do planeta e a preocupação com o futuro das próximas gerações é latente.”
por Alessandro Pelossof