Histórias e ideias de quem lê Página 22
“Vamos fazer uma conversa circular, como se fosse num bar, e ver o que acontece?”, propôs Ana Carla Fonseca Reis, assim que se deparou com o roteiro de perguntas da repórter. Uma das pioneiras no campo da economia criativa no Brasil, é fácil perceber que Ana Carla não gosta de categorias, limites e caixas separadas.
Quando iniciou sua formação nos cursos de Economia e Administração Pública (USP e FGV ), escolheu trabalhar na cinemateca de São Paulo, o que causava estranhamento tanto entre os colegas de trabalho quanto os de faculdade. Passou por agências de publicidade e grandes empresas, sempre buscando entender as maneiras de transformar os saberes e intenções culturais em ativos econômicos e como aproximar os mundos de artistas e empresários.
Professora de MBA em bens culturais da FGV , consultora da ONU para economia criativa, e dona da empresa de consultoria Garimpo de Soluções, Ana Carla está convencida de que a singularidade cultural dos povos, especialmente no Brasil, é uma das chaves para o desenvolvimento sustentável.
Seu livro Economia da Cultura e Desenvolvimento Sustentável amealhou o cobiçado Prêmio Jabuti em 2007. “Tem os investimentos e as politicas de cultura e os de meio ambiente. Sempre separados. Não precisa ser assim”, diz Ana Carla. Para ela, uma indústria da biodiversidade teria muito a ganhar se fosse incorporado o valor pelo modo de vida e de produção das comunidades tradicionais.
Para ilustrar a ideia, ela cita o exemplo do setor de moda, maior empregador de mão de obra feminina no Brasil, em comparação com o mesmo setor na Argentina, devastado pela concorrência chinesa. “Um chinês pode perfeitamente fabricar uma camisa branca. Mas pode fazer um biquíni brasileiro?” Não há quem não duvide.