por Roberto Strumpf
MDL, CER, REDD, PSA, GEE, ETC. As discussões ambientais atuais estão mais complexas do que nunca e é fácil se perder no meio desta sopa de letrinhas… A questão é que nunca tivemos tantas informações cientificas, vontade política, reivindicações sociais e econômicas atreladas a antes coadjuvante causa ambiental. Estes ingredientes se misturam num caldeirão cuja ebulição está prevista para o final deste ano, na COP15 em Copenhagen. A sopa final, se não queimar, terá de agradar a gregos, americanos, troianos e chineses, é realmente um grande desafio!
A fim de compreender melhor o presente momento proponho uma rápida análise no caminho tortuoso do movimento ambiental até aqui. Tudo começou naquele verão de 1969 quando o “flower-power” deu as caras ao mundo nas vozes, corpos e mentes de hippies cansados da guerra, do capitalismo selvagem e da degradação ambiental. Hoje me parece que eles falharam feio nas duas primeiras causas, mas obtiveram sucesso ao iniciar um movimento que está na pauta dos grandes líderes políticos atuais e CEO´s de megacorporações.
De 1969 a 2009 o movimento ambientalista solidificou-se e evoluiu, incorporando conceitos sociais e econômicos para dar luz à famosa, porém pouco compreendida sustentabilidade – “suprir as necessidades da geração presente sem afetar a habilidade das gerações futuras de suprir as suas” (Brundtland, 1987), que vem se tornando quase que um décimo primeiro mandamento no século XXI. A palavra mágica está em voga, é uma tendência para os fashionistas, é uma necessidade para os ambientalistas e uma dor de cabeça para muitos tomadores de decisão.
Bom, não é fácil resumir 40 anos em dois parágrafos, mas o fato é que se hoje o movimento está forte é porque sua causa ganhou importância global. E qual seria a raiz deste problema que tomou conta do mundo? A macroeconomia atual tem como alicerce o crescimento que é sustentado (ou insustentado) pelo uso dos recursos naturais em uma cadeia linear. Isso quer dizer que transformamos recursos naturais em bens de consumo, lixo e poluição interruptamente. Pensando assim, fica fácil entender como causamos um desequilíbrio ecológico do nosso planeta que se reflete nos dois principais desafios ambientais atuais: as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade.
No fim das contas é tudo um problema de espaço-tempo. Espaço porque, até o momento, o Planeta Terra é único e já somos 6 bilhões de pessoas – e crescendo. Segundo estimativas, em 2050 seremos 9 bilhões de homo sapiens procurando de onde extrair e onde descartar em um Planeta já debilitado. Este cenário não é otimista! Espaço nos remete também ao conceito de pegada ecológica, ou seja, a área do Planeta que precisamos para suprir todas as nossas necessidades fisiológicas e que se relaciona com o comportamento de cada indivíduo. Só para exemplificar, segundo este conceito cada Americano ocupa o espaço relativo a 14 Indianos sem, no entanto, pagar um “aluguel” maior por isso.
E tempo, pois o desequilíbrio causado por esta enorme pegada ecológica esta gerando mudanças climáticas num ritmo muito mais rápido do que a capacidade de adaptação dos seres vivos, o que inclui nós. Ah, e tempo também porque para impedirmos que este processo se torne extremo e irreversível temos que agir já, imediatamente, ontem na verdade!
Tudo o que fizemos na história da humanidade tinha como objetivo crescer, expandir, procriar e consumir como se não houvesse amanhã. O irônico é que agora, que finalmente o amanhã esta ameaçado, decidimos repensar esta estratégia genial. Depois de 100 mil anos como caçadores coletores, 12 mil como agricultores sedentários e 250 anos como sociedade industrializada chegamos ao cerne do desafio muito mais do que ambiental que se materializa a nossa frente: não há mais espaço para tanta gente da forma como vivemos e por este motivo o Planeta vem sofrendo mudanças drásticas numa velocidade nunca antes vista.
Após uma luta de aproximadamente 15 anos que se iniciou na Conferencia Eco-92 no Rio de Janeiro, chegamos finalmente ao momento em que este problema é reconhecido e tido como grave por todos (ou pela grande maioria). Já é uma vitória mas demorou demais e, como disse, estamos sem tempo. Na verdade este é o maior desafio global da história da humanidade, temos que pela primeira vez tomar decisões individuais pensando globalmente e num longo horizonte de tempo, mais uma vez o maldito espaço-tempo!
Chegamos então no ano de 2009 com um cenário propicio para a implementação das mudanças que precisamos. A sociedade cientifica divulgou números precisos e inquietantes, o terceiro setor mobiliza a sociedade, o tema está na agenda do Obama e já é discutido até mesmo em mesa de bar. Parece-me que pela primeira vez temos uma combinação poderosa: consenso e vontade política. Se no Rio em 92 traçamos as metas e em Kyoto-97 implementamos um “projeto-piloto”, Copenhagen-09 pode muito bem ficar para a história como sinônimo de ação.
Portanto, estamos passando por um momento importantíssimo no movimento ambientalista mundial. Espero que tenhamos neste século uma inversão dos papéis no filme do século XX, com as questões socioambientais como prioridade e a economia como coadjuvante. A mudança que o atual desafio pede é profunda e, se o cerne do problema é físico, a solução está na mudança de comportamento de cada um e passa até mesmo por questões filosóficas. A Terra é redonda como Galileu nos mostrou, porém tem fim como os grandes navegadores temiam.