Histórias e ideias de quem lê Página 22
Quando o eletricista paulistano José Roberto Godoy recebeu o diagnóstico de HIV, em 1991, achou que se tratava de uma sentença de morte. “Quer saber? Eu vou morrer no mato”, decidiu, rumando em seguida para a região de Visconde de Mauá, na divisa entre São Paulo e Rio de Janeiro. Hoje com 52 anos, Godoy não se deixou derrubar, nem pelo vírus nem pelos três atentados a bala que viria a sofrer.
Começou a provocar inimigos em 1999, quando, após um grande incêndio florestal, fundou a Brigada de Voluntários da Área de Preservação Permanente de Visconde de Mauá. Além realizar um trabalho de prevenção e combate ao fogo, o grupo passou a receber denúncias anônimas sobre caçadores ilegais dentro da área de preservação ambiental (APA). Godoy levou tudo para o Ministério Público, provocando a ira dos criminosos.
“As pessoas pensam que essas coisas só acontecem na Amazônia. Mas no Sudeste também tem”, diz. Segundo Godoy, o Ibama mantém agentes do programa Prevfogo no Parque Nacional de Itatiaia, outra unidade da região. Mas, na APA, a maior parte do trabalho sobra para o grupo de cerca de 20 voluntários, na base de enxadas, foices e abafadores, especialmente no mês de julho.
Godoy procurou Página22 para fazer um apelo. Acredita que a criação de unidades de conservação e programas de reflorestamento em todo País andam dissociados de sistemas de defesa. “A primeira coisa tem que ser isolar e proteger. É muito fácil plantar árvore, demarcar uma área, mas pra fazer um sistema de defesa, preparar as pessoas para o combate ao fogo, não tem recursos”, reivindica. “De que adianta hoje em dia ter detecção de queimadas em tempo real, se eu não tenho gente para apagar o fogo?” Recado dado.