A perspectiva de uma candidatura Marina é a de desconstruir a visão brutalizante da economia e colocá-la em sintonia com a sociedade e seus valores, com a busca de um “mundo melhor” – bandeira a ser traduzida em detalhes
Marina Silva deu uma chacoalhada memorável no universo modorrento do sistema político brasileiro com sua decisão de sair do PT e filiar-se ao Partido Verde. O correcorre dos “neoambientalistas” em todos os partidos, para mostrar intimidade com algo que nunca os moveu seriamente, é também muito interessante e pode render bons frutos para o País, já que nunca se sabe como essas coisas terminam. Começam no oportunismo e, vai saber, podem despertar vocações sinceras ou levar a boas iniciativas.
O que não dá é para ser otimista a ponto de prever alterações de fundo no olimpo tosco e fisiológico do poder político brasileiro. O que está acontecendo parece ser apenas, como diria meu amigo Mario Monzoni, um habeas corpus preventivo para enfrentar, em 2010, um possível fenômeno Marina chegando ao coração da população com uma proposta mais avançada de desenvolvimento e de prática política ou – pior ainda para o establishment – conseguindo demonstrar aos mais pobres que, para fazer justiça social de fato, são imprescindíveis o respeito ao meio ambiente e o uso correto dos recursos naturais.
Atentos, porém, à lição recorrente das pesquisas de que o bolso decide eleições – as pessoas votam orientadas, basicamente, pela situação econômica do País e de olho na sua em particular –, as múltiplas forças empenhadas em barrar o crescimento de Marina Silva soltaram na praça o mote de que ela é “monotemática”, induzindo à conclusão de que só pensa no meio ambiente e é incapaz de lidar com outras questões.
Nessa reação, que, aliás, saiu primeiro do Palácio do Planalto, estão contidos os dois grandes problemas dessa candidatura contra a corrente: mostrar a que veio e conseguir comunicar isso amplamente. Que Marina não é monotemática, as forças conservadoras sabem, pois certamente estão acompanhando seus artigos, declarações, posições e as iniciativas pelo Menos desde que assumiu o Ministério do Meio Ambiente, em 2003. No conjunto da obra está claro que Marina propõe rumos para a economia, para o poder político e para as prioridades do desenvolvimento, dialogando com a complexidade da situação do planeta e com a necessidade de mudanças decorrentes da gravidade do quadro do aquecimento global.
“É a economia, estúpido!”, para voltar à repisada frase do marqueteiro James Carville, na campanha de Bill Clinton de 1992. A diferença agora, integralmente colocada ao Brasil pela perspectiva de uma candidatura Marina, é que não se trata mais da visão totalizante e brutalizante da economia, mas do desafio de um projeto nacional que prepare o salto para a póseconomia tal como a conhecemos hoje. Descarbonizada e também desmistificada como ciência da fatalidade, do “tem que ser assim”. O que significa desconstruir a prepotência política do mercado e colocar em primeiro plano a sociedade e sua conexão com valores, com novos conhecimentos, com a trajetória da humanidade, com o planeta, com a busca de um “mundo melhor”, bandeira a ser traduzida em detalhes.
Para chegar a esses detalhes, Marina e o PV não podem perder a energia que está claramente mobilizada na sociedade brasileira para ajudar a montar o quebracabeça do desenvolvimento sustentável, definir suas ferramentas, metas, modus operandi. Ou se faz agora o teste do poder horizontalizado e da participação qualitativa, substantiva, amarrada e interativa como os nós de uma rede, ou sabe-se lá quando haverá outra oportunidade e tamanha motivação.
Por outro lado, isso não é uma ação entre amigos, para, ao final, dar a satisfação de ter sido uma experiência avançada. O avanço, sem querer ser tautológica, precisa avançar.
Precisa fazer alianças, expandir-se para além das bordas dos setores de classe média bem informada, nos quais, segundo os arautos do atraso, esgota-se o potencial eleitoral de Marina Silva. Como comunicar, sem prender-se ao vazio meramente propagandístico, o que representa essa provável candidatura?
Certamente a internet será fundamental nesse embate, por ser, apesar de todos os problemas e da delinquência que nela campeia, o espaço comunicativo da sociedade, livre e sem senhores, cada vez mais acessível e aberto à criatividade e ao confronto de informações. Não sem razão, as raposas do Congresso tentaram submetêla às suas regras, para manter o jogo sempre dentro do mesmo quadrado. Os freios atingiriam, obviamente, quem mais depende de iniciativas da sociedade para fazer chegar sua mensagem. Para a alternativa desenvolvimento sustentável/Marina, foi uma vitória a não inclusão de restrições à internet na minirreforma eleitoreira. Mesmo assim, para não perder o cacoete, impôs-se à rede mundial, como se ela fosse também uma concessão pública, a mesma regra de rádio e TV para a realização de debates.
Paciência. O importante é que a fila anda e 2010 poderá ser, tomara!, uma nova fronteira política para o País.
*Jornalista e socióloga[:en]A perspectiva de uma candidatura Marina é a de desconstruir a visão brutalizante da economia e colocá-la em sintonia com a sociedade e seus valores, com a busca de um “mundo melhor” – bandeira a ser traduzida em detalhes
Marina Silva deu uma chacoalhada memorável no universo modorrento do sistema político brasileiro com sua decisão de sair do PT e filiar-se ao Partido Verde. O correcorre dos “neoambientalistas” em todos os partidos, para mostrar intimidade com algo que nunca os moveu seriamente, é também muito interessante e pode render bons frutos para o País, já que nunca se sabe como essas coisas terminam. Começam no oportunismo e, vai saber, podem despertar vocações sinceras ou levar a boas iniciativas.
O que não dá é para ser otimista a ponto de prever alterações de fundo no olimpo tosco e fisiológico do poder político brasileiro. O que está acontecendo parece ser apenas, como diria meu amigo Mario Monzoni, um habeas corpus preventivo para enfrentar, em 2010, um possível fenômeno Marina chegando ao coração da população com uma proposta mais avançada de desenvolvimento e de prática política ou – pior ainda para o establishment – conseguindo demonstrar aos mais pobres que, para fazer justiça social de fato, são imprescindíveis o respeito ao meio ambiente e o uso correto dos recursos naturais.
Atentos, porém, à lição recorrente das pesquisas de que o bolso decide eleições – as pessoas votam orientadas, basicamente, pela situação econômica do País e de olho na sua em particular –, as múltiplas forças empenhadas em barrar o crescimento de Marina Silva soltaram na praça o mote de que ela é “monotemática”, induzindo à conclusão de que só pensa no meio ambiente e é incapaz de lidar com outras questões.
Nessa reação, que, aliás, saiu primeiro do Palácio do Planalto, estão contidos os dois grandes problemas dessa candidatura contra a corrente: mostrar a que veio e conseguir comunicar isso amplamente. Que Marina não é monotemática, as forças conservadoras sabem, pois certamente estão acompanhando seus artigos, declarações, posições e as iniciativas pelo Menos desde que assumiu o Ministério do Meio Ambiente, em 2003. No conjunto da obra está claro que Marina propõe rumos para a economia, para o poder político e para as prioridades do desenvolvimento, dialogando com a complexidade da situação do planeta e com a necessidade de mudanças decorrentes da gravidade do quadro do aquecimento global.
“É a economia, estúpido!”, para voltar à repisada frase do marqueteiro James Carville, na campanha de Bill Clinton de 1992. A diferença agora, integralmente colocada ao Brasil pela perspectiva de uma candidatura Marina, é que não se trata mais da visão totalizante e brutalizante da economia, mas do desafio de um projeto nacional que prepare o salto para a póseconomia tal como a conhecemos hoje. Descarbonizada e também desmistificada como ciência da fatalidade, do “tem que ser assim”. O que significa desconstruir a prepotência política do mercado e colocar em primeiro plano a sociedade e sua conexão com valores, com novos conhecimentos, com a trajetória da humanidade, com o planeta, com a busca de um “mundo melhor”, bandeira a ser traduzida em detalhes.
Para chegar a esses detalhes, Marina e o PV não podem perder a energia que está claramente mobilizada na sociedade brasileira para ajudar a montar o quebracabeça do desenvolvimento sustentável, definir suas ferramentas, metas, modus operandi. Ou se faz agora o teste do poder horizontalizado e da participação qualitativa, substantiva, amarrada e interativa como os nós de uma rede, ou sabe-se lá quando haverá outra oportunidade e tamanha motivação.
Por outro lado, isso não é uma ação entre amigos, para, ao final, dar a satisfação de ter sido uma experiência avançada. O avanço, sem querer ser tautológica, precisa avançar.
Precisa fazer alianças, expandir-se para além das bordas dos setores de classe média bem informada, nos quais, segundo os arautos do atraso, esgota-se o potencial eleitoral de Marina Silva. Como comunicar, sem prender-se ao vazio meramente propagandístico, o que representa essa provável candidatura?
Certamente a internet será fundamental nesse embate, por ser, apesar de todos os problemas e da delinquência que nela campeia, o espaço comunicativo da sociedade, livre e sem senhores, cada vez mais acessível e aberto à criatividade e ao confronto de informações. Não sem razão, as raposas do Congresso tentaram submetêla às suas regras, para manter o jogo sempre dentro do mesmo quadrado. Os freios atingiriam, obviamente, quem mais depende de iniciativas da sociedade para fazer chegar sua mensagem. Para a alternativa desenvolvimento sustentável/Marina, foi uma vitória a não inclusão de restrições à internet na minirreforma eleitoreira. Mesmo assim, para não perder o cacoete, impôs-se à rede mundial, como se ela fosse também uma concessão pública, a mesma regra de rádio e TV para a realização de debates.
Paciência. O importante é que a fila anda e 2010 poderá ser, tomara!, uma nova fronteira política para o País.
*Jornalista e socióloga