Para os andinos, Pachamama é a deusa Mãe Terra. A palavra “Pacha” significa universo, mundo, lugar, tempo, enquanto “mama” significa mãe. É a geradora de abundância e de tudo o que na Terra existe. A vida, as estações, a fecundidade, a morte e o renascimento.
Home – Nosso Planeta, Nossa Casa, filme do fotógrafo americano Yann Arthus-Bertrand, exibe a Pachamama como raramente se vê: do alto. O trabalho ambicioso registrou imagens de 54 países em dois anos de filmagens de aviões, helicópteros, alto dos prédios. Vemos cores e texturas de todos os continentes com uma beleza bastante incomum.
Enquanto tentamos nos fixar naquele pedaço da Terra retratado de passagem, uma narradora desfia as seguidas mazelas de cada canto, nos pressionando contra a poltrona do cinema até quase ficarmos sem ar. Isso se você já não baixou o filme na web e assistiu de casa mesmo ou a uma das sessões subsidiadas nos 126 países em que o trabalho foi lançado simultaneamente este ano.
A plasticidade de Home guarda o melhor e também o maior dilemma do documentário. É muito mais atraente do que a cadenciada e televisiva narração do caos mundial que acompanha o filme, mas pode escondê-lo.
É o caso das tocantes imagens de Burkina Faso – negros por sobre um monte de branquíssima paina. Quem são esses agricultores? Em que condições estão ali?
Em tom na maioria das vezes sentimental, Home tem a qualidade de agregar dados abrangentes sobre os problemas socioambientais e deixar as indagações em aberto. O projeto do diretor é alertar e divulgar para o maior número de pessoas o tamanho e onde mora a crise. Por isso o incentivo a exibições gratuitas. Diante da grandiloquência, o elo terra e vida, como na definição dos andinos, pode passar batido.
Onde Foi que Erramos?
Mais um filme da leva de trabalhos que resolveram entrar com tudo na seara da sustentabilidade, A Era da Estupidez (Reino Unido/2009 – Franny Armstrong) estreou a fim de transformar espectadores em ativistas. O filme se passa em 2055 e mostra o “arquivista”, um homem solitário que vive num mundo devastado pelo aquecimento global e consome seu tempo catalogando o passado. Ele se pergunta por que a humanidade não tomou providências contra a crise climática quando havia tempo. Confira a programação aqui.
Árvores secas, latas enferrujadas de refrigerante, paredes trincadas do calor e roupas rasgadas lavadas pelo sal do mar. A entrada do ateliê/loja do estilista Henrique Falcão em Trancoso, na Bahia, é um choque para o visitante desavisado. “Traços D’Evolución” é o tema da sua última coleção. Há dez anos, Falcão criou a Célula Tronco, fábrica de roupas em que as peças e o contexto de exposição pretendem transmitir alertas e ideias de sustentabilidade. “A minha pergunta hoje é: enquanto evoluímos, o que devolvemos? A roupa reflete a necessidade de reconstruir um sistema que se mostra antiquado e incapaz.”
Cinema e Direitos Humanos
Dezesseis capitais brasileiras exibem de 5 de outubro a 10 de novembro a 4ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul, promovida pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos, com produção da Cinemateca Brasileira.
O evento elegeu 40 filmes com o olhar singular de cineastas sul-americanos sobre temas, valores e dilemmas que dizem respeito à dignidade do ser humano. A maratona pode ser vista em: São Paulo, Rio, Natal, Porto Alegre, Belo Horizonte, Teresina, Manaus, Fortaleza, Rio Branco, Belém, Maceió, Brasília, Goiânia, Recife, Curitiba e Salvador. A entrada é franca e as salas de cinema oferecem acessibilidade para pessoas portadoras de deficiência física.
Arquitetura holística
A cidade da arquitetura está pensando novas modalidades de desenvolvimento urbano no século XXI. Habiter Ecologique – Habitar Ecologicamente – é o nome da exposição em cartaz no Palais de Chaillot, em Paris, até 1º de novembro. Para Dominique Gauzin-Müller, especialista em construção sustentável e interessado nos liames entre arquitetura e sociedade, o prédio deve ser considerado no ambiente global. Isso significa pensar sociologia, economia e ecologia para cada edifício. Nos 1. 000 metros quadrados de exposição, fotos, protótipos, filmes e um espaço para consulta técnica dos materiais do futuro.