Primeiro, eles recuaram e jogaram um banho de água fria em um mundo cada vez mais aquecido ao dizer que pouco se comprometeriam durante a Conferência Global do Clima, que acontece no próximo mês em Copenhague. Agora, depois da péssima repercussão, China e Estados Unidos equacionam contas e emplacam manchetes que voltam a dar fôlego à COP15.
A China anunciou nesta quinta-feira que tem intenção de reduzir entre 40% a 45% a intensidade de carbono até 2020 em relação aos parâmetros de 2005.
No entanto, essa pode ser uma pegadinha climática. Diminuir a intensidade significa emitir menos carbono a cada dólar produzido. Mas, a depender do crescimento chinês até 2020, nada impede que as emissões aumentem em lugar de diminuir, mesmo com mais eficiência energética.
As emissões podem crescer, por exemplo, em outros estágios do processo econômico que não são os de produção, o que não atinge o problema de frente. Entre 2006 e 2010, o país já tinha se comprometido a reduzir intensidade energética em 20%. O novo compromisso dobra os eforços do gigante.
Outra novidade chinesa: a delegação que Pequim mandará à COP seu primeiro-ministro, Wen Jiabao. De acordo com o porta-voz do governo, em entrevista coletiva, a presença de Wen “demonstra a grande importância que o governo chinês dá à mudança climática e sua vontade política de trabalhar com a comunidade internacional neste assunto”.
Seriam os holofotes no fim do túnel?
E não foram somente os chineses que surpreenderam esta semana. Os Estados Unidos, o segundo colocado no ranking das emissões globais, anunciaram ontem que levarão à Conferência o compromisso de cortar as emissões de gases do efeito estufa em 17% até 2020, em relação a 2005.
Vale lembrar que um projeto relativo a limites de emissão segue emperrado no Congresso norte-americano e ainda promete intensas discussões em Washington, esperadas somente para 2010. Obama não vai liderar a comissão dos Estados Unidos, mas também confirmou a presença na Conferência.
A própria meta norte-americana também é bem modesta, pois corresponde a 3% das emissões em comparação com os níveis de 1990. Para se ter uma ideia, a meta da Europa é de 20 % em relação ao mesmo ano. E esse deve ser um entrave nas negociações em Copenhague, já que a União Européia sinaliza que não aceitará carregar o piano dos países ricos.
Ainda assim, a mudança de postura dos dois gigantes, frente a uma reconhecida pressão da opinião pública internacional, faz com que Copenhague volte a ser uma promessa de esperança. “Os compromissos dos Estados Unidos e China podem destrancar duas das últimas portas para a formulação do acordo”, disse Yvo de Boer, secretário-geral da COP à imprensa.
Boer lembra que ainda há muitas questões sem resposta para a Conferência: “nós ainda aguardamos definições mais claras das nações industrializadas em relação ao financiamento para os países em desenvolvimento nas ações imediatas e de longo prazo no combate às mudanças climáticas”, disse.