Às vésperas da COP-15, mais e mais notícias sobre os bastidores envolvendo a Conferência do Clima eclodem a todo instante. Dados de novos estudos científicos alarmantes também são revelados, num esforço de contextualizar a seriedade da crise ambiental e também de forçar os governantes a posições mais ousadas.
Se tudo isso é fundamental nessa terra dos homens, tenho a sensação que não podemos nos descuidar de outros argumentos e percepções que revelam porquês de se cuidar do planeta que nos acolhe.
De bate-pronto, me vêm dois relatos do comportamento da natureza que mostram com uma força avassaladora a poesia da vida.
O primeiro ouvi de um amigo, o Lester. Ele contava sobre um estudo sobre a migração de uma espécie de tubarão pelos oceanos … algo como da Austrália ao Polo Norte. Os biólogos acompanhando alguns desses animais perceberam que de tempos em tempos eles subiam à tona d’água com os olhos apontados para cima. Aos poucos, os cientistas perceberam que esses tubarões subiam à superfície para checar sua posição em relação às estrelas e assim guiar sua longa jornada pelos mares …
O outro relato ouvi de um amigo do Rio de Janeiro, apaixonado por beija-flores, mas que me contava sobre os corais. Em noite de lua cheia, numa única vez no ano, acontece o ritual de sexo desses animais, com a desova de bolsas de óvulos e espermatozoides, formando uma gigantesca nuvem esbranquiçada, que flutua para a superfície e gera a fecundação. Os ovos começam a se dividir e formar embriões, que formarão as plânulas (larvas), que se fixarão nos recifes formando um novo coral …
Faço as imagens desses dois relatos na mente e fico estupefato com os caminhos achados pelos seres vivos em sua história no planeta … cenas que beiram a literatura fantástica … ou melhor, que são o fantástico na vida real.
Ricardo Barretto