Pense, faça, experimente! É o lema da Tinkering School, um programa na Califórnia que dá ferramentas e incentivo para as crianças construírem as coisas que imaginam
Brincar com fogo, possuir um canivete, jogar uma lança, desmontar aparelhos e dirigir um carro são algumas das coisas perigosas que, segundo Gever Tulley, todos os pais deveriam permitir que seus fi lhos fi zessem. Tulley é o fundador da Tinkering School, um programa extracurricular oferecido na Califórnia para crianças de 8 a 17 anos aprenderem a construir coisas que elas imaginam. “Esquemas grandiosos, ideias selvagens, noções malucas e saltos intuitivos de imaginação são, claro, encorajados e nutridos”, diz o website da escola.
A ideia é liberar os pequerruchos dos limites impostos pela supervigilância por parte dos adultos e pela rigidez dos currículos escolares. “Trabalhamos para reabrir o mundo para as crianças, que são cada vez mais tratadas como animais exóticos, mantidas em jaulas especiais e alimentadas com uma dieta de ideias prédigeridas”, disse Tulley em uma entrevista.
Onde a maioria dos adultos veria riscos, a Tinkering School vê ferramentas. Em uma fogueira, as crianças aprendem a como controlar uma das forças mais elementares da natureza; um canivete equivale a um laboratório científi co de bolso; uma lança desenvolve acuidade visual, compreensão tridimensional, atenção e concentração; uma máquina de lavar, quando desmontada, ajuda a perceber que, independente de quão complexas as coisas sejam, é possível compreender suas partes e, eventualmente, o todo. Nas palavras de Tulley, desconstruir aparelhos faz com que as crianças saibam que é possível “saber”.
Os pupilos da Tinkering School em geral são crianças da classe média americana, cujas atividades na infância estão a anosluz de distância daquelas de seus pares em países em desenvolvimento, pelo menos daqueles que vivem em áreas rurais, onde o contato com a natureza e a realidade ao redor é bem mais próximo. Em tal contexto, um currículo baseado na ideia de tornar as crianças confortáveis e hábeis em seu próprio ambiente pode ser tachado de supérfl uo. Entretanto, o fato de que a Tinkering School e outras semelhantes existem indica que talvez falte algo nas escolas tradicionais, estejam onde estiverem.
Para Ken Robinson, especialista britânico em criatividade, o que falta é permitir que as crianças em idade escolar utilizem sua capacidade de inovar – por não ter medo de errar, elas estão sempre arriscando coisas novas. Robinson diz que a criatividade é tão importante quanto a alfabetização, e ambas deveriam ter o mesmo status na escola [“O mundo não precisa de mais uma pessoa que pode operar um programa CAD, mas de pessoas que possam solucionar os problemas que enfrentam usando as ferramentas e recursos disponíveis”, concorda Gever Tulley.
O que as crianças aprendem hoje, com certeza, vai infl uenciar o estado do mundo no futuro próximo – afi nal, elas são as tão propaladas gerações futuras para quem se quer legar planeta e sociedade saudáveis. A Tinkering School faz lembrar que há espaço para repensar a escola, aprimorála e adaptá-la às crianças e às necessidades do mundo atual. A tarefa, nesse caso, é das gerações presentes.]. Ao contrário, o que sistemas educacionais no mundo todo adotam é uma hierarquia de temas em que as ciências exatas e a matemática estão no topo, seguidas das línguas, as humanidades e, por último, as artes.
Como resultado, as crianças são educadas da cintura para cima e, à medida que crescem, o foco é cada vez mais sua cabeça, particularmente um dos lados. Robinson brinca que um extraterrestre que baixasse à Terra hoje poderia ser levado a acreditar que o objetivo das escolas públicas – no Brasil, este é o caso das particulares – é formar professores de universidade.
O interesse na promoção da habilidade acadêmica fazia sentido no século XIX, quando os sistemas públicos de educação foram criados para atender as necessidades da industrialização, mas ainda permanecem no topo as disciplinas mais úteis para que o estudante venha a obter trabalho. Entretanto, o mundo mudou radicalmente e hoje um diploma não é, necessariamente, sinônimo de emprego. O modus operandi das escolas básicas previne que as crianças sejam educadas por inteiro, no entender de Robinson.
“O mundo não precisa de mais uma pessoa que pode operar um programa CAD, mas de pessoas que possam solucionar os problemas que enfrentam usando as ferramentas e recursos disponíveis”, concorda Gever Tulley. O que as crianças aprendem hoje, com certeza, vai infl uenciar o estado do mundo no futuro próximo – afi nal, elas são as tão propaladas gerações futuras para quem se quer legar planeta e sociedade saudáveis. A Tinkering School faz lembrar que há espaço para repensar a escola, aprimorála e adaptá-la às crianças e às necessidades do mundo atual. A tarefa, nesse caso, é das gerações presentes.[:en]Pense, faça, experimente! É o lema da Tinkering School, um programa na Califórnia que dá ferramentas e incentivo para as crianças construírem as coisas que imaginam
Brincar com fogo, possuir um canivete, jogar uma lança, desmontar aparelhos e dirigir um carro são algumas das coisas perigosas que, segundo Gever Tulley, todos os pais deveriam permitir que seus fi lhos fi zessem. Tulley é o fundador da Tinkering School, um programa extracurricular oferecido na Califórnia para crianças de 8 a 17 anos aprenderem a construir coisas que elas imaginam. “Esquemas grandiosos, ideias selvagens, noções malucas e saltos intuitivos de imaginação são, claro, encorajados e nutridos”, diz o website da escola.
A ideia é liberar os pequerruchos dos limites impostos pela supervigilância por parte dos adultos e pela rigidez dos currículos escolares. “Trabalhamos para reabrir o mundo para as crianças, que são cada vez mais tratadas como animais exóticos, mantidas em jaulas especiais e alimentadas com uma dieta de ideias prédigeridas”, disse Tulley em uma entrevista.
Onde a maioria dos adultos veria riscos, a Tinkering School vê ferramentas. Em uma fogueira, as crianças aprendem a como controlar uma das forças mais elementares da natureza; um canivete equivale a um laboratório científi co de bolso; uma lança desenvolve acuidade visual, compreensão tridimensional, atenção e concentração; uma máquina de lavar, quando desmontada, ajuda a perceber que, independente de quão complexas as coisas sejam, é possível compreender suas partes e, eventualmente, o todo. Nas palavras de Tulley, desconstruir aparelhos faz com que as crianças saibam que é possível “saber”.
Os pupilos da Tinkering School em geral são crianças da classe média americana, cujas atividades na infância estão a anosluz de distância daquelas de seus pares em países em desenvolvimento, pelo menos daqueles que vivem em áreas rurais, onde o contato com a natureza e a realidade ao redor é bem mais próximo. Em tal contexto, um currículo baseado na ideia de tornar as crianças confortáveis e hábeis em seu próprio ambiente pode ser tachado de supérfl uo. Entretanto, o fato de que a Tinkering School e outras semelhantes existem indica que talvez falte algo nas escolas tradicionais, estejam onde estiverem.
Para Ken Robinson, especialista britânico em criatividade, o que falta é permitir que as crianças em idade escolar utilizem sua capacidade de inovar – por não ter medo de errar, elas estão sempre arriscando coisas novas. Robinson diz que a criatividade é tão importante quanto a alfabetização, e ambas deveriam ter o mesmo status na escola [“O mundo não precisa de mais uma pessoa que pode operar um programa CAD, mas de pessoas que possam solucionar os problemas que enfrentam usando as ferramentas e recursos disponíveis”, concorda Gever Tulley.
O que as crianças aprendem hoje, com certeza, vai infl uenciar o estado do mundo no futuro próximo – afi nal, elas são as tão propaladas gerações futuras para quem se quer legar planeta e sociedade saudáveis. A Tinkering School faz lembrar que há espaço para repensar a escola, aprimorála e adaptá-la às crianças e às necessidades do mundo atual. A tarefa, nesse caso, é das gerações presentes.]. Ao contrário, o que sistemas educacionais no mundo todo adotam é uma hierarquia de temas em que as ciências exatas e a matemática estão no topo, seguidas das línguas, as humanidades e, por último, as artes.
Como resultado, as crianças são educadas da cintura para cima e, à medida que crescem, o foco é cada vez mais sua cabeça, particularmente um dos lados. Robinson brinca que um extraterrestre que baixasse à Terra hoje poderia ser levado a acreditar que o objetivo das escolas públicas – no Brasil, este é o caso das particulares – é formar professores de universidade.
O interesse na promoção da habilidade acadêmica fazia sentido no século XIX, quando os sistemas públicos de educação foram criados para atender as necessidades da industrialização, mas ainda permanecem no topo as disciplinas mais úteis para que o estudante venha a obter trabalho. Entretanto, o mundo mudou radicalmente e hoje um diploma não é, necessariamente, sinônimo de emprego. O modus operandi das escolas básicas previne que as crianças sejam educadas por inteiro, no entender de Robinson.
“O mundo não precisa de mais uma pessoa que pode operar um programa CAD, mas de pessoas que possam solucionar os problemas que enfrentam usando as ferramentas e recursos disponíveis”, concorda Gever Tulley. O que as crianças aprendem hoje, com certeza, vai infl uenciar o estado do mundo no futuro próximo – afi nal, elas são as tão propaladas gerações futuras para quem se quer legar planeta e sociedade saudáveis. A Tinkering School faz lembrar que há espaço para repensar a escola, aprimorála e adaptá-la às crianças e às necessidades do mundo atual. A tarefa, nesse caso, é das gerações presentes.