Já corre o mundo as notícias sobre o bloqueio às ONGs. Ontem, Roberto Strumpf e eu nos deparamos com um esquema especial de segurança para “controlar” a entrada da sociedade civil na Conferência. A estação de metrô quer serve o local estava desativada para embarques e desembarques, obrigando todos a descerem em outras estações, como Orstad e Sundby, enfrentando a pé os -5 graus celsius de temperatura e a neve que cai sem parar há três dias … ótimo jeito de dar uma primeira esfriada nos ânimos.
Os policiais ao longo do caminho já sinalizavam o que estava por vir: próximo ao Bella Center, uma verdadeira operação de guerra, com diversos veículos da polícia, com sirenes lampejando, cachorros latindo e os coletes e capacetes identificando os policiais de 2m de altura em média. Ação anti-terrorismo? Não … ação anti-sociedade civil. Chegando mais próximos do local já avistamos bicicletas danificadas ao chão, gente sendo presa, um caminhão de ativistas sendo confiscado por policiais e agrupamentos da POLITI em um exercício bem preciso de sanduíche humano, em que eles se juntam a uma aglomeração e a dividem em lotes em questões de segundo.
Depois de fazer alguma imagens, Beto e eu tentamos chegar mais perto da entrada do Bella Center, já que, em teoria, tínhamos a permissão oficial para entrar na Conferência – pelo menos essa é a idéia de ter um crachá. Com tantos bloqueios, o caminho encontrado por nós, integrantes de ONGs e jornalistas (sim, esses também tiveram dificuldade para entrar na Conferência ontem) encontramos uma “passagem” por um muro separando grades de um rio gelado a dois metros de altura. Alguns passaram. Eu fui tirado por um grandalhão quando estava no meio da operação. Vigoroso no movimento, mas ainda educado, o policial me disse que o único modo de entrar era dando uma volta gingantesca pela vizinhança e chegando numa outra passagem que tinha virado, naquele dia, a rota de entrada oficial.
Lá fui eu. No caminho, mais uma ação de sanduíche humano, dessa vez em cima de uma ponte: um batalhão de um lado e outro do outro transformou em pasta de gente os manifestantes que estavam numa ponte e faziam coro aos gritos da multidão “shame on you” e “people’s assembley now”. Passei por mais um bloqueio, outra fila cães, e uma via sem asfalto, chegando na tal entrada oficial com um bloco de mais dez policiais. Mostrei meu crachá, meu segundo crachá (distribuído a alguns integrantes de ONGs no dia anterior como condição para entrada a partir de então) e passei. Caí então num bolo de integrantes de Partes, jornalistas e membros de ONGs tentando entrar. Todos repetiam quando viam meu crachá amarelo? “ONGs are not allowed” … claro que eu resolvi tentar. Consegui passar por um primeiro bloco de policiais gigantescos … mas fui dispensado no segundo.
Indignação e revolta tomou conta de quem estava a partir daquele momento expulso das conversas em Copenhague. Reencontrei o Beto e outros companheiros de ONGs, como Ricardo Nono, do IPAM – que filmou alguns depoimentos dos “degredados” … em breve no ar – e Salo, do ISA. A partir daí, o movimento foi se engajar em manifestações ou criar rodas de discussão pela cidade, desde o shopping center próximo ao Bella Center, até pontos de encontro das ONGs já conhecidos, como o Klima Forum e o distrito de Kristiania. O resto do dia foi dominado pelas conversas sobre a falta de transparência, o rumo tomado pela COP-15 e a indignação dos representantes da sociedade civil. Mais posts a respeito no blog do Observatório do Clima.
Desde hoje, estamos nos reunindo nas ruas e acompanhando as discussões da Conferência pela internet. Até o momento, a sensação que fica é que a COP-15 entrará para a história não por ter mudado o rumo da economia mundial para salvar o planeta, mas por ter adotado modos de ação jamais vistos numa Conferência das Partes anteriormente, incluindo uma proposta secreta de texto para o acordo final, orquestrada pelos países desenvolvidos.
A esperança é a última que morre (Hopenhagen?). Deixo o link da campanha relâmpago da Avaaz por uma chamada final aos líderes mundiais.
Esperamos que a campanha do Greenpeace não seja uma premonição acertada.
Veja na coluna ao lado um vídeo feito pela ONG Vitae Civilis sobre o dia de ontem em Copenhague.