No dia 8 de dezembro, São Paulo travou por causa da chuva. Mas, durante a tarde do mesmo dia, foram registrados meros 10 quilometros de congestinamento, número impressionante para um dia de semana. Simples: as pessoas não conseguiram passar das marginais e entrar na região central da cidade, e ela ficou vazia. A ironia nos joga na cara o quanto a estrutura urbana da capital paulista depende dos veículos.
Agora pense neste outro cenário: o preço de uma vaga no estacionamento coletivo da cidade é de cerca de 70 mil reais; nas ruas, os veículos podem transitar somente para fazer entregas, mudanças ou para tarefas específicas nesse sentido. Na verdade, as vias públicas são usadas principalmente pelas crianças, que correm e fazem desenhos no chão livremente. Este paraíso “car-free” existe e se chama Vauban, um distrito da cidade de Freiburg, no sul da Alemanha.
O lugar foi pensado justamente como uma espécie de laboratório urbanístico sustentável. É resultado de um projeto da administração de Freiburg conjuntamente com o Forum Vauban (que tem status de Organização Não-Governamental) iniciado em 1995 e cuja intenção era criar um distrito residencial a partir de um modelo cooperativo e participativo, respeitando princípios ecológicos, sociais, econômicos e culturais. Além da limitação de uso de automóveis, todo o sistema de aquecimento das casas foi pensado para ser o mais o mais eficiente possível.
Em 2001, chegaram os primeiros habitantes – na época, cerca de 2 mil deles, de um total esperado entre 5,5 e 6 mil pessoas (10% composto de programas residenciais do governo). Distante três quilômetros do centro de Freiburg, hoje somente cerca de 20% dos habitantes do distrito tem um carro. O sucesso da ideia foi tanto que atraiu a atenção da mídia de todo o mundo – com direito a matéria no britânico The Guardian (em inglês) e slideshow com fotos no New York Times.
Alternativas em centros maiores
Cidadãos de outros centros urbanos do mundo podem se aproximar – ao menos um pouquinho – da realidade de Vauban. O portal britânico CarFree.Org traz uma série de iniciativas por toda a Europa que investem em regiões ou centros exclusivos para pedestres.
O site elenca cidades como Hamburgo, segunda maior cidade da Alemanha, onde organizações de moradores que são adpetos da ideia e gostariam de viver em um lugar do tipo criaram uma organização para implementá-la, a Autofreies Wohnen. O grupo já organizou a formação de conjuntos residenciais com 228 apartamentos onde há uso restrito de veículos. A mesma ideia levou à criação de um projeto residencial em Viena, na Áustria, que desde 1993 concilia áreas residenciais “car-free” e projetos públicos de habitação.
Outro grande centro europeu famoso pela facilidade em se pedalar é Amsterdã. De acordo com a administração da cidade, metade de todo o tráfego local é feito sobre as duas rodas de uma bicicleta (alugar uma custa cerca de 20 reais por dia), e a Holanda tem inclusive ciclovias em suas estradas, o que facilita – principalmente no quesito segurança – as viagens de adeptos ao ciclismo.
Veja uma lista da Wikipedia com lugares “car-free” pelo mundo.
Menos carros, mais vida social
Uma outra matéria do Guardian traz à tona um estudo que atesta que pessoas que vivem em bairros com pouco fluxo de carros tendem a desenvolver uma vida social mais ativa com seus vizinhos. “As pessoas ficam por um tempo e criam raízes”, disse um dos entrevistados que vive na cidade inglesa de Bristol, onde foi desenvolvida a pesquisa. “Nós nos preocupamos uns com os outros.”
Mais da metade dos entrevistados disse que se sente “em casa” na casa dos outros, e o estudo alega que, nas ruas movimentadas, as pessoas tendem a se preocupar menos com os cuidados com a via e a brigar e gritar mais frequentemente.