As questões climáticas saltaram da esfera puramente científica e política e passaram a ter um lugar de destaque na mídia de massa inicialmente em 2006, com o lançamento do Relatório Stern e, logo depois, do documentário “Uma Verdade Inconveniente” de Al Gore. O Segundo boom popular ocorreu no ano passado, quando o assunto foi catapultado para outro patamar de prioridade na opinião pública. Os motivos são muitos, todos catalisados pela expectativa de um novo acordo mundial na Conferência do Clima de Copenahgue (COP15), o que não ocorreu.
As pessoas se sensibilizaram e cobraram de seus líderes uma posição mais incisiva sobre a questão e, com isso, percebe-se que há no mundo uma mudança em curso. Hoje vemos surgir a chamada nova economia do baixo carbono, cujo paradigma é que as mudanças climáticas são causadas pelo excesso de gases de efeito estufa (GEE) emitidos em decorrência das atividades do homem. O IPCC diz que, com 95% de certeza, esta teoria é correta e que o mundo irá aquecer mais do que 2 graus centígrados neste século se não mudarmos radicalmente nossa forma de produção e de consumo.
O que pouca gente lembra é que a ciência tem um mecanismo de auto-regulação bastante peculiar e complexo, onde basicamente uma teoria é tida como verdade até que se prove o contrário. Até hoje ninguém propôs uma teoria que pudesse rivalizar com a perfeição do Neo-Darwinismo para explicar a origem das espécies. Mesmo assim esta só é verdade até que alguém proponha algo que seja testável, comprovável, e, portanto, amplamente aceito pela comunidade científica internacional.
Pois bem, foi pensando nestas questões, e também nos erros recentemente encontrados em relatórios do IPCC, que resolvi pesquisar o que os céticos do aquecimento global andam dizendo por ai. Encontrei muita coisa na Internet, a maioria em sites alarmistas que não inspiram nenhuma confiança. Mas encontrei também informações inquietantes, como o documentário chamado “The Great Global Warming Swidle”, disponível no You Tube. O diretor “prova” que as mudanças climáticas não têm nada a ver com o CO2 lançado na atmosfera e muito menos com as atividades do homem, e sim com as variações na energia cósmica causadas por explosões no sol. Verdade ou não, o documentário é bem feito e tem argumentos fortes.
Particularmente não sou um desses céticos e, apesar do raciocínio até aqui, meu objetivo não é iniciar uma discussão polêmica a respeito da veracidade das mudanças climáticas antropogênicas. O ponto principal é que o engajamento de pessoas e corporações em questões socioambientais não pode se sustentar apenas nas mudanças climáticas. E me parece que a exposição exagerada desta ameaça global acabou por ofuscar uma série de questões importantíssimas que incorporam a sustentabilidade.
Considero esta abordagem perigosa porque, se por um lado o que move a economia do baixo carbono não é uma certeza absoluta, e sim o principio da precaução tardiamente aplicado – já que não temos um planeta B…, por outro as mudanças propostas por esta economia são, sem exceção e sem sombra de dúvida, absolutamente necessárias para nossa sociedade.
Astrês principais propostas sendo discutidas hoje em âmbito global para a mitigação das mudanças climáticas podem ser resumidas em eficiência energética, energias renováveis e redução do desmatamento. Esta primeira é facilmente defendida por argumentos não climáticos, isso porque investir em eficiência energética significa redução de custos e diferenciação dos produtos de uma empresa, tornando-a mais competitiva no médio e longo prazo. Este é um bom motivo para que, no mundo todo, empresas líderes em seus setores realizem inventários de emissões de gases de efeito estufa (GEE), processo que aponta os caminhos para uma boa gestão energética e para a inovação.
A diversificação da matriz energética através do investimento em renováveis é questão de segurança nacional, pois evita que um país dependa tão fortemente de um recurso que, além de finito, é controlado por um grupo de poucos países como no caso do petróleo. Além disso, a implementação conjunta destas duas primeiras propostas reduz a possibilidade de conflitos advindos de disputas por esses recursos finitos e tem ainda um impacto enorme na saúde de moradores de grandes centros urbanos, que sofrem com a poluição do ar causado pelo excesso de meios de transporte ineficientes movidos a combustíveis fosseis.
Por fim, o reconhecimento do valor dos serviços ambientais fornecidos por uma floresta é um argumento fortíssimo contra o desmatamento ilegal que, por si só, deveria ser o bastante para evitar esta pratica há muito tempo. Alem dos serviços mais óbvios como o fornecimento de alimentos, medicamentos, cosméticos, fibras e madeira que uma floresta tropical abriga, temos ainda a questão hídrica que no Brasil é absolutamente estratégica. A umidade exportada pela Amazônia para outras regiões é da ordem de 1,7 trilhões de metros cúbicos de vapor d’água, segundo estimativa do professor Eneas Salatti da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), ou seja, sem a Amazônia nossa produção de grãos e carne e nossa matriz elétrica poderiam estar em risco por falta de chuvas no Centro Oeste, Sul e Sudeste,do país. Estes são apenas alguns de muitos argumentos para provar que investimentos maciços em eficiência energética, energias renováveis e combate ao desflorestamento são necessários e estratégicos para todos os setores da sociedade, independente de termos ou não alguma responsabilidade sobre as mudanças climáticas. Uma abordagem monotemática é frágil e coloca em risco todo o esforço e recursos alocados nas últimas décadas para viabilizar um desenvolvimento mais sustentável.
Já somos quase 7 bilhões de pessoas mas a Terra permanece a mesma. Há mais de 1 bilhão de chineses querendo um padrão de vida melhor e é justo que o façam. . Dependemos demais de recursos não renováveis e, devido a uma péssima gestão de nossas riquezas naturais, estamos acabando com recursos teoricamente abundantes. Questionar verdades tidas como absolutas é saudável, sempre moveu a ciência, mas colocar uma dúvida como desculpa para a inação é um tiro no pé quando as consequências são tão desastrosas para o meio ambiente e o homem.
Os resultados do atual modelo de desenvolvimento insustentável não são previsões futuras, nós a sentimos e pagamos caro por isso todos os dias, isso tem de ficar claro. Portanto, vamos deixar a discussão sobre nossa responsabilidade perante as mudanças climáticas para a ciência e fazer nossa parte porque, caso contrário, quando esta discussão terminar será tarde para comemorarmos.
Beto Strumpf