O dia em que o Recife amanheceu gelado
A queda de um meteorito na praia de Boa Viagem pode ou não ser a causa de um estranho fenômeno meteorológico que atinge a capital de Pernambuco. O repórter de um programa da TV argentina vai até a “Veneza Brasileira” investigar como vivem e o que fazem agora os brasileiros – acostumados ao calor tropical – forçados a conviver com temperaturas que não passam dos 14 graus e uma chuva constante.
Com o tom da verdade documental, o diretor pernambucano Kleber Mendonça Filho nos leva longe em sua mais recente viagem absurda: o curta-metragem Recife Frio. Sob o pretexto da mudança climática radical e através dos olhos do repórter argentino, Mendonça Filho se depara com sua própria cidade, cultura, preconceitos, diferenças sociais.
O que mudou no Recife depois que ela amanheceu gelada e a nuvem cinza parece nunca mais sair? O diretor pernambucano nos oferece reflexão e boas risadas nesta ficção filiada ao cinema fantástico. A mudança é o filho do patrão ocupar o quarto da empregada, o menor e mais quente da casa! As coberturas da praia de Boa Viagem tornam-se o pior lugar para se viver. Estão todas à venda, expondo a especulação imobiliária às avessas.
E os recifenses, coitados, para onde vão agora que o tempo não está mais pra praia? Para os shopping centers, ora bolas! Em Recife Frio, a mudança climática só muda o clima. O curioso é que a premissa encontra ressonância entre alguns estudiosos do clima. Os que tentam tirar do homem a responsabilidade pelo aquecimento do planeta.
Ali no filme, o diretor usa o clima como pretexto para expor a prevalência do dinheiro e o consumismo como pilar de uma sociedade. Mas também aponta para o caminho do coletivo. No final, uma roda de pessoas dança uma ciranda, cantada por Lia de Itamaracá. Minha ciranda não é minha só,/ ela é de todos nós,/ ela é de todos nós. Trilha indicada para reuniões políticas para decidir o futuro do clima (o nosso).
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Cartoneiras na América
Pela primeira vez, as editoras cartoneiras da América Latina se encontraram. Eloisa Cartonera (Argentina), Sarita Cartonera (Peru), La Cartonera (México), Dulcinéia Catadora (Brasil), Mandrágora Cartonera (Bolívia), Yerba Mala (Bolívia), Animita Cartonera (Chile) e Yiyi Jambo (Paraguai) mostraram seus trabalhos a convite da Universidade de Madison, Wisconsin, EUA.
Foi um encontro ocorrido no fim do ano passado entre os fazedores de livros com capa de papelão colhido nas ruas e os estudiosos desse movimento que se alastrou pelos países latino-americanos. Neste 2010, acaba de aportar nas dependências da Dulcinéia Catadora, na Vila Madalena, em São Paulo, um embornal com 80 exemplares do livro/cartilha editado pela universidade americana, fruto dos debates realizados em Madison.
Akademia Cartonera, editado pela professora Ksenija Bilbija, traz uma pluralidade de vozes sobre arte, papelão, realidade latino-americana, literatura, exclusão social. Atenção: as alternativas de inclusão e cidadania que as editoras apresentam estão se espalhando. O livro será lançado em breve neste Brasil.
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Sambão de rainha
Sambão pra não ter dúvida e botar pra quebrar. São sete mulheres que se reuniram para criar o grupo Samba de Rainha, mostrando que ele não tem gênero. Cantando samba, fazendo samba, as meninas transformaram sua paixão em (motivo de) vida. O grupo lançou dois Cds e é um dos mais populares de São Paulo, tocando regularmente em casas como Traço de União e Bar Brahma, além de se apresentar em projetos como Boteco Bohemia (São Paulo, Belo Horizonte, Uberaba e Brasília), Espaço Brasil Telecom (Brasília) e Virada Cultural (São Paulo).
Nos shows, além de chamar a atenção do público com suas próprias composições e versões singulares de canções de grandes nomes da música, reverenciam suas origens e influências prestando homenagem às rainhas do samba: Clara Nunes, Alcione, Beth Carvalho, Leci Brandão, Dona Ivone Lara e Clementina de Jesus. Memória e reinvenção.
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Eu Menti Pra Você
Primeiro disco solo da cantora e compositora pernambucana Karina Buhr é uma miscelânia de sons e letras que tratam de guerra, amor, política cultural, solidão e até o hábito de estourar plástico bolha. Karina é líder da banda pernambucana Cumadre Florzinha, já tocou com Eddie, DJ Dolores e Orchestra Santa Massa e nos maracatus de Pernambuco. Radicada em São Paulo, participa também do Teatro Oficina, como cantora, percussionista e atriz. No cinema, colaborou em diversas trilhas sonoras, como em Baile Perfumado, Narradores de Javé e A Máquina. Ouça aqui.