“Tudo que é beleza a gente acha na beira do rio.” Assim, dona Antônia Francisca da Abadia, 58 anos, define o ofício e a percepção que ela tem sobre o seu ambiente de trabalho, o Rio das Almas, no município goiano de Pirenópolis, onde há décadas ela faz do garimpo artesanal muito mais que um ganha-pão. Para ela, é um modo de vida. “O garimpo é adorável”, diz.
Nascida nos grotões de Goiás e obrigada desde criança a pegar na enxada para ajudar no roçado da família, dona Antônia não teve a chance de sentar-se no banco da escola. Ao se mudar para Pirenópolis, usava as águas do rio para lavar roupa. Foi aí que descobriu a paixão pelo garimpo. Ao ver outras mulheres na lida com a bateia em punho, dona Antônia percebeu: havia a chance de ter alguma renda e sair do serviço doméstico que até então a mantinha. “Eu era humilhada na casa das pessoas e não era feliz.” O garimpo lhe trouxe o alento e o sustento.
Foi com o ouro colhido no Rio das Almas que ela criou as cinco filhas e hoje ajuda com os netos. “Coragem nunca me faltou”, orgulha-se essa mulher de feições caboclas e algumas memórias de antepassados indígenas, que aprenderam com os brancos do Ciclo do Ouro na região a arte de garimpar.
Seu garimpo é feito de modo tradicional, sem uso de mercúrio. Os instrumentos são a enxada e a bateia. Os impactos sobre o rio são poucos. Explica que os buracos que porventura tem de cavar logo são cobertos com a ação das chuvas.
Para conseguir ouro suficiente para as despesas da casa, é preciso garimpar muito. “Chego às 7 da manhã e vou embora às 6 da tarde”, relata. Uma das filhas leva o almoço, composto basicamente de arroz, feijão e, às vezes, alguma carne.
Ainda assim ela prefere o rio e a companhia das outras garimpeiras. Se não garimpa, está pescando. Mesmo quando não encontra ouro, acha-se feliz. “Meu lugar é o rio. Quando eu tô no rio, tá tudo bom.”