O destino da floresta nem sempre depende da demarcação de áreas a serem preservadas. O que acontece, muitas vezes, é simplesmente uma migração do desmatamento para outras regiões. No Brasil, entretanto, essa realidade começa a dar indícios de uma nova tendência. Um estudo da UFMG mostrou que, entre 2002 e 2009, ocorreu um aumento de 700 mil km2 em unidades de conservação na Amazônia sem a geração do tão temido “vazamento”, termo que designa a transposição do desmate para além das regiões protegidas.
Segundo Britaldo Soares-Filho, professor do Departamento de Cartografia da UFMG e coordenador da pesquisa, o desenvolvimento de políticas públicas e o aumento da fiscalização por parte do IBAMA, juntamente com a desaceleração do mercado agrícola, foram alguns dos principais fatores responsáveis por impedir o fenômeno. Para o professor, a criação dessas estruturas de controle acabariam por desencorajar a atuação de grileiros.
Na realização da pesquisa, foram consideradas as 595 unidades de conservação amazônicas (federais e estaduais), inclusive as de ocupação indígena e militar. As áreas protegidas abrigam hoje cerca de 54% dos remanescentes florestais da Amazônia brasileira, valor estimado em 3,4 milhões de km2.
O resultado sinaliza boas perspectivas para o Brasil em um possível acordo internacional que estabeleça incentivos econômicos para redução das emissões de carbono por desmatamento, o chamado mecanismo REDD. O vazamento, ou leakage, é uma das principais suspeitas que pairam sobre o mecanismo e sua capacidade de efetivamente reduzir emissões.
Para Soares-Filho, os indicadores do estudo beneficiariam em especial o Brasil numa possível participação no mercado de carbono. Detentores de grandes florestas, como Indonésia e Costa Rica não partilhariam da mesma realidade. Enquanto no país asiático as áreas de preservação ainda sofrem com níveis consideráveis de degradação, na Costa Rica, muito do que se torna áreas protegidas não seria, na prática, desmatado. Tratam-se, em grande parte, de regiões remotas com condições geográficas desfavoráveis e difícil acesso.
No Brasil, entretanto, essas porções preservadas têm assumido um outro papel, funcionando, em muitos casos, como uma verdadeira barreira verde. Elas estão localizadas justamente nas regiões-focos de desmatamento e atuam como freios no processo. “Parte do esforço de manutenção do bioma já é o reflexo da expectativa de proprietários em receber uma remuneração sobre a região preservada ”, revela.
O professor ainda defende que seriam necessários investimentos da ordem de US$ 3 a US$ 9 bilhões na implementação de mais áreas protegidas na região, valor que deveria ser partilhado entre os países num possível acordo sobre o REDD. Segundo a pesquisa, só no Brasil, as áreas preservadas compreendem 56% do carbono disponível sob a forma de floresta no bioma. Até 2050, elas poderiam absover até 8 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa, o que equivale a um ano de emissões de todos os países juntos.
Além da UFMG, o estudo contou com a participação do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, do Woods Hole Research Center e do WWF.
Leia mais sobre o REDD no artigo “Redução de dúvidas” e na matéria “Sem corte nos esforços“, da edição 3o de Página 22.