Conversa de corpo e terra
Maura Baiocchi parte da compreensão do corpo como uma extensão do mundo (e vice-versa). Morador e casa, corpo e planeta confundem-se. Nessa direção, surgiu DAN (devir ancestral), espetáculo concebido pela artista expondo a tensão entre identidade e meio ambiente, entre o corpo e a terra que o abriga. “As constantes agressões à vida animal, vegetal e mineral provocam a decadência e a morte dos corpos e das culturas. DAN é uma contribuição artística e política diante da necessidade de ações ecoéticas que visam uma interação cuidadosa com todas as formas de existência”, diz a artista. O espetáculo inaugura o ciclo de ecoperformances da Taanteatro Companhia. São vídeos gravados no Cerrado brasileiro, dança, poesia, fotos, instalação cênica e música original.
De 13 a 15 de agosto no Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília; no dia 27 no Fórum Vitória de Dança, no Espírito Santo. Em data a ser confirmada neste segundo semestre na Bienal de Dança do Ceará. Em São Paulo, pode ser visto em setembro na Mostra do Fomento, no Espaço Casulo.
O Esplendor dos Contrários
Quem sabe só pelo título você se apaixone por este livro de Arthur Omar, multiartista brasileiro que empreendeu quatro grandes viagens à Região Amazônica, seguindo o curso do Rio Amazonas desde Manaus até Terra Santa, já no Pará, para construir suas “aventuras da cor”. Mas Omar cria mais. Trata-se de uma experiência de imersão nas imagens, percepção radical do espaço e da cor. “Como se um novo universo estético da região acabasse de ser descoberto”, escreve sobre O Esplendor dos Contrários Ivana Bentes, doutora em Estudos Contemporâneos da UFRJ. O livro é uma tentativa de descobrir novas maneiras de “dizer a Amazônia” em imagens, tirando do espectador uma vista viciada e automática imposta pela mídia. Textos do próprio artista acompanham o percurso das imagens de árvores, galhos, terras, rios, barcos, homens e animais.
Publicado pela editora Cosac & Naify, em 208 páginas, com 190 fotografias.
Veja outros trabalhos de Omar aqui.
Arte florescentista
O jardineiro André Feliciano se diz um cultivador da arte contemporânea para que ela se transforme em “arte florescentista”. Na sociedade florescentista, todos usufruem da natureza da arte, pois ela está no cotidiano e não nas galerias ou nos museus. Ele faz um paralelo da história da arte com uma plantação de tomates: preparação do terreno (romper a tradição), escolha dos nutrientes (separar a abstração do mundo para torná-la autônoma), adubação do solo (jogar a abstração sobre a sociedade), plantio da semente (o humano contém a potência da arte).
Dessa maneira, a arte contemporânea ainda dará seus frutos, que vão perpassar a política, a fotografia, a literatura e toda a sociedade. “O mundo está mudando para ser mais ecológico e artístico, pois não basta apenas cuidar da natureza dos ecossistemas para que o planeta se equilibre, também é necessário cuidar da natureza humana”, diz Feliciano em seu Arte Florescentista (Ed. Altana). O artista tem outras publicações e trabalhos relacionados nas principais livrarias e no seu blog Estufa da Cultura Florescentista.
Moderno do futuro
A coletiva de arquitetura brasileira Viver na Floresta, em cartaz no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, destaca projetos das décadas de 1930 a 1980, época de grandes realizações da arquitetura brasileira.
Bacana observar como o modernismo se adaptava às condições e possibilidades locais, criando projetos que contribuíam para a preservação do meio natural e seu uso como suporte paisagístico. Pouca interferência no solo e reinvenção de elementos de proteção climática, como treliçados, beirais e venezianas, podem ser vistos nos projetos de Lucio Costa, Oswaldo Bratke, Lina Bo Bardi, entre outros.
O curador da exposição, Abílio Guerra, destaca que os projetos se mostram surpreendentemente atuais diante do novo paradigma ecológico, mostrando a contribuição e inspiração da arquitetura brasileira para um futuro das construções.