Hoje é um dia para reflexões e debates. Sejam os debates não tão inflamados (até muito tímidos e medidos) sobre o segundo turno para a vaga no Planalto, ou as reflexões sobre as lições aprendidas de uma das eleições mais destemperadas da história da democracia brasileira pós 89. E que democracia! Mais uma vez e, por isso, sem surpresas, tivemos uma eleição tão diversa como é a diversidade da fauna e da flora do nosso país.
Apurados 136.002.778 votos, fora as disputas de segundo turno que ocorrerá em nove estados, elegemos 18 novos governadores – dez reeleitos –, 54 senadores, 513 deputados federais e 1059 deputados estaduais. Nunca antes visto nesta proporção, o eleitorado brasileiro resolveu abrir portas para alguns candidatos um tanto quanto excêntricos e diferentes do estereótipo que costumamos usar para a classe. Temos atletas, atores, humoristas, apresentadores e, de fato, palhaços.
Bem, se dizemos viver num país democrático, nada mais justo que preservar o direito de ir e vir de cada cidadão, permitindo que se candidatem, votem e que deliciem os bons feitos de seus eleitos. Assim passaremos os próximos quatro anos: deliciando os prazeres proporcionados por uma eleição democrática, porém, obrigatória.
Tendo a pensar que a turma da “pelada” e do “picadeiro” adentrará cada vez mais o Congresso e, possivelmente, os palácios de governo quanto mais obrigados a votar forem os desinteressados e os que enxergam nos poderes elegíveis um palco para seus artistas favoritos. Como bem disse um baiano Caetano que viveu em São Paulo, terra onde foi eleito o deputado federal mais votado em 2010 – com 1.353.820 votos–, isso aqui é “o avesso do avesso do avesso do avesso”.
Por hora, nada mais a fazer? Realmente não sei. Do outro lado da página, fechamos o ano eleitoral com admiráveis 80,7% (Ibope) de aprovação popular do governo Lula e com a surpreendente força da candidata Marina Silva (PV) nas urnas desse primeiro turno. “A jornada nos faz vitoriosos”, afirmou a candidata do Partido Verde ao comemorar os quase 20 milhões de votos obtidos. Concordo com o texto da manhã de ontem escrito pela amiga Maya Santana, Marina deu para o Brasil um valioso presente, a oportunidade de estudarmos criteriosamente dois candidatos que terão seus projetos no foco de um eleitorado de 136 milhões de brasileiros.
É hora da pauta do meio ambiente ser cobiçada – e não será tão assimilada – pelas duas chapas que menos avançaram na agenda ambiental do país. Não sei exatamente porque, mas penso que daí a impressão de que teremos daqui para frente discursos mais medidos e temperados com um quê de ativismo, o que, hipoteticamente, mais agradará a fatia verde de 20 milhões de brasileiros. E, num país de diversos e divertidos, será que isso cola?
Rafael Murta