O Japão soube explorar as oportunidades trazidas pelo choque do petróleo na década de 70 e tornou-se líder em eficiência energética. Para produzir uma tonelada de aço hoje os japoneses usam menos energia do que americanos e chineses, seus carros estão entre os mais eficientes do mundo, e o país consome 15% menos petróleo do que há 12 anos. Se a história é um indicativo, talvez no futuro o Japão será conhecido por superar outra crise, a dos elementos de terras raras.
Usados em produtos de alta tecnologia, de celulares a turbinas eólicas, os elementos de terras raras são considerados estratégicos, mas sua produção está nas mãos de apenas um país, a China.
Com uma prolífica indústria de eletro-eletrônicos, recentemente o Japão viu as remessas cessarem. Analistas apontam que o congelamento das exportações de elementos de terras raras da China para o Japão coincidiram com conflitos diplomáticos, principalmente após o choque, em início de setembro, entre uma embarcação chinesa e barcos da polícia costeira japonesa no Mar da China Oriental, próximo a ilhas disputadas pelos dois países. A China nega e diz que vem diminuindo as exportações – o que também afetou temporariamente os EUA e a Europa – para evitar danos ao meio ambiente.
De qualquer forma, os japoneses estão em busca de alternativas. Além de incentivar a pesquisa sobre alternativas aos elementos de terras raras e considerar a exploração desses recursos na plataforma continental, arregaçaram as mangas para reciclar. É a chamada mineração urbana. A reciclagem de elementos de terras raras a partir do e-lixo acumulado não vai garantir a auto-suficiência aos japoneses, mas com estimadas 300 mil toneladas desses metais em aparelhos eletrônicos usados no país, provavelmente será um começo para evitar o que alguns chamam de “pânico das terras raras”.
Há 17 elementos químicos que, se combinados a outros metais, são capazes de amplificar a luz nas fibras óticas, produzir cor nas telas de TVs e fortes campos magnéticos, entre outras qualidades úteis para a tecnologia e a indústria.
Eles são usados em aplicações militares e na fabricação de aparelhos eletrônicos, turbinas eólicas, motores de carros elétricos, lâmpadas LED, entre outros. Os elementos de terras raras ocorrem em abundância na crosta da Terra, mas são de difícil separação e raramente encontram-se em depósitos viáveis para exploração. Na primeira metade do século XX, o Brasil foi um dos principais produtores, a partir da areia monazítica.
Com 37% das reservas mundiais, a China responde por mais de 90% da produção global. Outras regiões produtoras, como a Califórnia, diminuíram as atividades a partir dos anos 80, quando a China passou a praticar preços mais baixos. Diante disso e do alto custo ambiental da produção desses elementos, seus competidores paulatinamente abandonaram a produção.
Os danos ambientais são a justificativa da China para diminuir as exportações. Esse ano, o país reduziu as cotas para mineradores, processadores e exportadores e passou a exigir que operem segundo as melhores práticas. A produção de elementos de terras raras se dá principalmente na Mongólia Interior e seus efeitos incluem poluição da atmosfera, água e terra – devido aos químicos usados na separação –, e a liberação de radioatividade.
Os elementos de terras raras são essenciais para as chamadas tecnologias verdes – os carros elétricos, por exemplo, dependem das propriedades magnéticas desses elementos para um motor potente e compacto. Há alguns dias, o governo chinês disse que precisa de cooperação internacional e pediu a transferência de tecnologias para reduzir o impacto ambiental da produção. Embora alguns vejam na questão ambiental apenas uma desculpa para manobras políticas ou para substituir a exportação de matéria-prima pela de produtos processados, o caso chama atenção para os processos não tão verdes por trás das tecnologias verdes. Mais uma boa razão para atacar as minas urbanas.