Entre o Fórum Internacional Geopolítica da Cultura e da Tecnologia (mais em entrevista, nesta edição) e o Fórum da Cultura Digital houve o show Futurível, em São Paulo, no Auditório do Ibirapuera, apontando direções remixadas para o futuro da cultura e da música brasileira. Gilberto Gil se encontrou com a banda revelação de Cuiabá Macaco Bong (um power trio que faz parte do coletivo Cubo, que, por sua vez, integra uma rede bacanérrima de coletivos chamada www.foradoeixo.org.br). No palco, teve ainda a Banda de Pife Princesa do Agreste, que tocou, dançou e contou causos para uma plateia doida por um baile. Em alguns momentos, a sonoridade de Caruaru mesclou-se com as tramoias do DJ Tudo e Sua Gente de Todo Lugar – reverberações instrumentais unindo os povos.
Foram mais de duas horas de passado e futuro, tradição e tecnologia, MPB e rock se materializando em novas canções e imagens projetadas num telão ao vivo pelo DJ Scan. Eram desenhos primitivos se fundindo a ondas eletromagnéticas e aos personagens daquele futurível momentâneo. O nome do show, aliás, é emprestado de uma música de Gil de 1969, o futuro possível pensado pelo tropicalista, pouco antes de partir para o exílio em Londres. Neste Futurível de 41 anos depois, a convergência se estabeleceu no palco, na plateia e nas redes, com transmissão ao vivo pela web.
Anote: Artista Igual Pedreiro é o nome do primeiro álbum do Macaco Bong, mistura de peso e delicadeza na carpintaria da música.
Lugares, estranhos e quietos
O cineasta alemão Wim Wenders fotografa como filma? A crítica se dividiu para avaliar a exposição inédita de WW em cartaz no Museu de Arte de São Paulo (Masp). Eu vejo uma aura de mistério a cada momento capturado pelas suas lentes. Com ou sem movimento, Wenders te leva à beira do precipício da fantasia. Na exposição Lugares, Estranhos e Quietos, o punctum (ponto principal de uma questão, segundo o Aurélio) trafega por cadeiras vermelhas em cenários verdes, grandes paisagens desoladas, roda-gigante, personagens do túnel de metrô, a cratera deixada por um meteorito. E Wenders, grande ilusionista que é, confunde quadro a quadro. O artificial e o natural são indistinguíveis e as fronteiras se dissolvem enquanto ele passeia com sua câmera. Neste caso são 23 imagens de grandes cidades ao redor do mundo. Até o dia 9 de janeiro no Masp.
A gambiarra caiu na rede
A exposição coletiva Gambiólogos está em cartaz no simpático Centro Cultural da capital mineira de nome CentoeQuatro. É uma seleção de obras que articulam conceitos da gambiologia. A saber, objetos físicos e sistemas digitais experimentais que relacionam, de formas diversas, a ideia de “gambiarra tecnológica”. São 24 artistas que pegam materiais reciclados do cotidiano e juntam com tecnologias eletrônicas de maior ou menor grau de sofisticação. Dessa forma, articulam temas como a utilização de eletrônica de baixo nível no lugar de alta tecnologia, o deslocamento industrial, utilizando aparelhos para finalidades distintas às quais foram inicialmente programados.
Meu mundo em perigo
Chega aos cinemas neste dezembro o longa Meu Mundo em Perigo, quarto filme de José Eduardo Belmonte. Um diretor dos bons, que demora para chegar às salas comerciais – o filme ficou pronto em 2007 –, apesar de festejado pelo público e pela crítica dos festivais. A história mostra Elias, um fotógrafo desempregado que vê seu mundo desabar quando a ex-mulher consegue a guarda do seu filho na Justiça. Desesperado, ele se envolve em um acidente de trânsito e mata um homem. No meio disso, conhece uma jovem que mora num hotel decadente no centro da cidade, e finge ser muda. Nos cinemas das principais capitais até quando tiver público. Portanto, compareçam!