Durante a COP de Cancún, um repórter americano ouviu de senadores que os EUA não deveriam contribuir para um fundo internacional de adaptação porque as avaliações do IPCC sobre impactos das mudanças climáticas nos países em desenvolvimento estariam erradas.
Para escrever equilibradamente sobre o assunto, o jornalista precisava descobrir se a justificativa dos senadores era válida e apresentar evidências sobre os impactos nos países em desenvolvimento.
Se antes isso significaria horas tentando localizar cientistas, conectar informações e construir uma ideia sobre o assunto, agora pode-se acionar o time de resposta rápida.
Um grupo de cientistas americanos se juntou para formar o Climate Science Rapid Response Matchmakers (CSRRT), um website lançado no final de novembro. Via o site, jornalistas e representantes de governos podem enviar perguntas a três “matchmakers”, ou mediadores. Eles encaminham as questões a cientistas especializados que possam respondê-las. A ideia é fazer isso de forma rápida, dentro dos deadlines estipulados pelos jornalistas.
“Há uma diferença dramática entre o que os cientistas sabem sobre as mudanças climáticas e o que o público sabe. Os cientistas do CSRRT entendem que uma melhor comunicação pode estreitar essa lacuna”, diz o site. “A mídia tem a melhor posição para fornecer informação científica acurada ao público em geral e a nossos líderes eleitos, mas apenas se receber tal informação. O CSRRT se compromete a oferecer esse serviço. Defendemos a educação científica”.
Não era sem tempo. Um estudo recente da Universidade de Yale mostrou que mais da metade dos americanos acredita que o aquecimento global está em curso, mas muitos não entendem as razões. “Apenas 8% dos americanos têm conhecimento equivalente a uma nota A ou B, 40% receberiam nota C ou D, e 52% levariam um F”, diz o estudo. Ou seja, esses 52%, se inquiridos sobre o conhecimento científico acerca das mudanças climáticas, acertariam menos de metade das questões. O mesmo estudo apontou que os cientistas e as organizações científicas são a fonte de informações que os americanos mais confiam quando se trata das mudanças do clima.
Se há confiança na ciência, mas falta conhecimento sobre o que os cientistas sabem, talvez a lacuna esteja mesmo na comunicação. Participante de blogs e discussões sobre questões climáticas, o americano Jeff Huggins, insiste que a mídia têm feito um péssimo trabalho na cobertura do tema. Segundo ele, as bases da ciência climática não são bem comunicadas e os jornalistas causam confusão ao reportar sobre pontos que os cientistas concordam ou discordam, sem contextualizar ou pesar os argumentos.
A historiadora Naomi Oreskes, em seu livro Mercadores da Dúvida, também aponta os jornalistas como agentes da confusão por tratar a questão climática como se houvesse dois lados na comunidade científica, um que concorda que o homem está ajudando a mudar o clima do planeta, e um que discorda. Segundo ela, 97% dos cientistas aceitam que as mudanças estão em curso e que as atividades humanas são parte da explicação.
A criação de um site como o Climate Science Rapid Response Team é uma boa notícia. O time conta com mais de 100 cientistas de várias áreas relacionadas com a ciência climática e inclui pesquisadores da Nasa, National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) dos EUA, Hadley Center da Inglaterra, entre outras instituições. “Estamos convidando mais cientistas todos os dias e a maioria aceita nosso convite porque entende que os cientistas têm a responsabilidade de engajar o público ao engajar a mídia”, disseram os mediadores do CSRRT em press release.
Em tempo, o jornalista em Cancún recebeu duas respostas de cientistas acionados pelo CSRRT, ambas garantindo que os senadores estavam equivocados em defender que os EUA ficassem de fora do fundo.