Os jornais estiveram cheios de tragédias naturais essa semana: enchentes em São Paulo, deslizamentos no Rio, rios transbordando no estado australiano de Queensland, nevasca no noroeste dos EUA, aniversário de um ano do terremoto no Haiti. Difícil evitar comparações e refletir sobre a previsão de que, com as mudanças climáticas, a freqüência de eventos extremos – incluam-se as enchentes no Paquistão, os incêndios na Rússia, a onda de frio no inverno europeu – só deve aumentar.
Aqui na Austrália, as enchentes que assolaram Queensland, no noroeste do país, foram comparadas a um tsunami em terra. O estado tem sido castigado por chuvas torrenciais desde novembro, que incharam os rios, que por sua vez carregaram casas, carros, gente e o que mais apareceu pela frente.
O foco mais recente dos esforços de resgate está na capital, Brisbane, onde habitam dois milhões de pessoas. Três quartos do estado foram declarados zona de desastre e os impactos na agricultura e mineração podem custar 1% do PIB da Austrália – Queensland fornece cerca de um terço do carvão siderúrgico consumido no mundo. Quinze pessoas morreram só na última semana, pelo menos 60 estão desaparecidas e dezenas de milhares desabrigadas. A expectativa é de que levará semanas até que as águas baixem e seja possível uma avaliação mais precisa dos prejuízos.
O fato de que a Austrália é um país rico, conta com boa infra-estrutura e planejamento – após enchente em 1974, o governo construiu uma barragem no rio Brisbane a montante da capital, o que ajudou a conter a força das águas – e que a resposta das autoridades civis às enchentes tem sido exemplar só indica a intensidade do desastre. Ao contrário da cidade de Nova York, que foi criticada pela inabilidade de responder à nevasca que varreu a metrópole na época de Natal, Queensland e seus habitantes têm sido elogiados pela ótima “gestão” do desastre.
De outro lado, os relatos sobre o estado de coisas no Haiti um ano após o terremoto que matou centenas de milhares de pessoas e deixou o país arrasado mostram que pouco avançou, apesar da ajuda internacional. A epidemia de cólera atrapalha os esforços de recuperação, mas talvez o mais importante seja o fato de que o Haiti contava com tão pouca infra-estrutura, instituições pouco sólidas e parca capacidade de resposta antes do desastre.
Diante das imagens do rio a invadir Brisbane, foi impossível não imaginar algo semelhante acontecendo, sem perspectiva de recesso das águas, em várias cidades costeiras devido à subida do nível do mar prevista pelos modelos climáticos. E imediatamente especular sobre o quão despreparada está a maioria das cidades, especialmente aquelas com menos recursos, infra-estrutura e capacidade de planejamento e resposta do que as australianas.
Os recentes desmoronamentos na região serrana do estado do Rio também foram comparados a tsunamis, com impactos – pelo menos em número de vidas perdidas – maiores do que os na Austrália. Em termos de capacidade de planejamento e resposta a desastres como esse, o Brasil provavelmente está no meio termo entre os dois extremos da Austrália e do Haiti. No ano passado, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, teria tido que a capacidade de resposta da cidade para as torrenciais chuvas que caíram no final do verão era “menor que zero”.
Paes decidiu contratar os serviços da multinacional IBM para tentar melhorar a situação. Foi inaugurado no último dia de 2010 o Centro de Operações da prefeitura do Rio, que vai operar independente de agências governamentais, recebendo dados de várias delas para tentar prever, visualizar e encontrar a melhor resposta para enchentes e outras emergências.
Para a IBM, o caso do Rio é uma ótima vitrine para a iniciativa da empresa batizada de “Smarter Planet”, que marca sua transição da venda de produtos para a venda de “soluções”. É de se imaginar que se a solução que a IBM quer vender à cidade do Rio é melhor preparo para enfrentar emergências e desastres naturais, a empresa fará o possível para ser bem sucedida.
O centro de operações não é suficiente para preparar o Rio para uma maior intensidade nos desastres naturais, mas parece uma iniciativa relevante. Resta esperar que seja seguida por outras e que não seja desmantelada após o término dos eventos esportivos que o País vai sediar nos próximos anos. Isso por que, se há algo implícito na cobertura dos desastres climáticos desse início de 2011 é que cidades do mundo inteiro, do Rio a Brisbane, estão em plena adaptação às mudanças climáticas.