Um verdadeiro banquete. Variedade não é o problema: são 6 milhões de espécies diferentes, com sabores e formatos para todos os gostos. E o mais importante: proteína pura. Quem falou em falta de comida?
Esses são os insetos. Para Marcel Dicke, da Wageningen University (Holanda), eles são uma alternativa “saborosa” ao crescimento acelerado da população mundial, que este ano já deve alcançar os 7 bilhões de habitantes. “É apenas uma maneira normal de viver”, afirma (sério) o professor (veja vídeo).
Por mais estranho que pareça para alguns – ou para a maioria, no nosso caso – incorporar os insetos à dieta ocidental pode não ser ideia tão absurda daqui a alguns anos. As mudanças climáticas e as heranças de um modelo agropecuário nada sustentável ameaçam cada vez mais os preços dos alimentos, que, segundo o inglês The Guardian, nunca estiveram tão altos desde 1990.
Aqueles que ainda não aderiram ao “gafanhoto ao madeira”, no entanto, talvez fiquem um pouco mais animados com os resultados do último relatório do Worldwatch Institute, sob o tema “Inovações que nutrem o planeta”. Não há nenhum projeto com insetos, mas muitos são tão interessantes quanto.
O estudo destaca boas práticas de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas sobre a produção de alimentos, assim como a ampliação da agricultura nas cidades. Na Gâmbia, por exemplo, 6.000 mulheres se organizaram em uma associação para promover a produção sustentável de ostras na comunidade local, evitando a exploração predatória. O sucesso do projeto levou ao apoio do governo, que está incentivando a implementação da ideia em outras regiões e financiando produtores de baixa renda.
Na outra margem da África, agricultores da Tanzânia foram incentivados a transformar métodos tradicionais com que lidavam com a terra, evitando a repetição de culturas no mesmo solo e o desmatamento de encostas. Liderado pela organização Care Internacional, o projeto auxilia produtores a restaurarem o solo de suas plantações a partir da construção de terraços e do cultivo de árvores que ajudam a terra a recuperar seus nutrientes.
Em Nairóbi (Quênia), mais de 1.000 moradores da principal favela da capital estão cultivando alimentos em hortas verticais, sacos de terra perfurados onde plantam as mais variadas espécies de verduras e legumes. A ideia ganha fôlego diante do crescimento das cidades africanas, que recebem mais de 14 milhões de pessoas todos os anos. E o êxodo rural está apenas começando: apenas 33% da população do continente é urbana.
O relatório enfatiza ainda a importância de diminuir os índices de desperdício, que hoje inutiliza cerca de 40% da produção mundial de alimentos. Grande parte dos projetos trabalha com a oportunidade da economia de recursos a partir da própria redução dessas perdas. Os gafanhotos agradecem.