Os efeitos da mitigação das mudanças climáticas poderão ser sentidos na própria pele. Literalmente. Segundo recomendação do Pnuma, a diminuição da quantidade de fuligem liberada na atmosfera pode representar umas das formas mais eficientes para frear o aquecimento global.
Em seu relatório, a ONU afirma que essa estratégia poderia reduzir as taxas de elevação da temperatura do planeta em até 0,5°C até 2030. No Ártico, esse efeito poderia ser ainda mais intenso, com a queda das projeções, nesse mesmo período, para cerca de 2/3 em relação ao que hoje se estima.
A comunidade científica internacional afirma que o planeta suportaria uma elevação de até 2°C em comparação aos níveis pré-industriais. Números acima disso já representariam mudanças catastróficas e irreversíveis.
Os resultados acabam por atestar a grande fatia de responsabilidade que os automóveis têm no aumento da temperatura global. A fuligem, ou “carbono negro”, é liberada na combustão de uma série de materiais, principalmente os hidrocarbonetos. Ela conta com uma grande capacidade de acumulação de calor, mas não permanece por muito tempo na atmosfera, em contraposição ao dióxido de carbono, razão pela qual esse último tem sido o foco principal de toda a discussão sobre clima.
Ao cair na neve, a fuligem escurece sua superfície, aumentando a absorção de luz solar e, assim, acelerando a fusão do gelo. Esse fenômeno tem apresentado efeitos como o rápido derretimento de porções no Ártico e a desregulação do ciclo das águas na Cordilheira do Himalaia.
“A boa notícia é que, ao contrário do dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa, estratégias de mitigação para reduzir a emissão de fuligem poderiam apresentar rápidos efeitos sobre o clima”, diz Ellen Baum, pesquisadora sênior do Clean Air Task Force, organização parceira do estudo.
Segundo Baum, o principal obstáculo a isso, porém, é o custo dos recursos, que envolveriam a colocação de filtros e a utilização de outras tecnologias por parte de fabricantes de automóveis ou proprietários de veículos, por exemplo. Ela aponta ainda a grande carência no acesso a fornos de queima mais limpa, assim como aos próprios fogões solares.
O estudo afirma que medidas para reduzir a fuligem poderiam ter muitos benefícios adicionais, como a melhoria da saúde da população devido à diminuição dos níveis de poluição. O Pnuma estima que até 2,4 milhões de mortes prematuras poderiam ser evitadas anualmente, assim como a produção global de alimentos básicos – incluindo o arroz, o trigo e a soja –, seria de 1% a 4% maior a cada ano.