E se os esforços de conservação da natureza tivessem uma perspectiva de gênero? Que tal se as mulheres fossem alvo de uma estratégia especial? Foi justamente esse apelo que fez a União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN) no dia da mulher, no ano das florestas, mais conhecido como ontem.
Pode parecer só uma jogada politicamente correta, mas os fatores estão interligados. As populações pobres são as principais afetadas pelo desmatamento no mundo todo, graças à perda de produtos e serviços florestais essenciais à sua sobrevivência.
Um exemplo simples: sem floresta, o abastecimento de água fica ameaçado e perdem-se serviços ambientais como controle de pragas e fertilização do solo. Um empresário do agronegócio tem muito mais condições de se virar, com agrotóxicos e sistemas de irrigação, que um agricultor familiar de baixa renda.
E quando se trata de reduzir pobreza, há um consenso internacional em torno da capacidade multiplicadora das mulheres. É o chamado The Girl Effect. Em média, no mundo em desenvolvimento, mulheres tendem a aplicar 90% de sua renda na família, enquanto os homens ficam entre 30% e 40%. Se a mulher for saudável, com acesso a serviços e informação, seus filhos também serão. E como são vítimas de discriminação e têm menos oportunidades, empoderar as mulheres significa destravar um potencial produtivo gigantesco, de trabalho e de conhecimento, com desdobramentos sobre economias locais (saiba mais aqui).
Mas o que isso tem a ver com meio ambiente? Pois é, tudo. Contemplar comunidades locais em estratégias de conservação faz parte de um entendimento mais moderno dessa missão – embora não sem opositores – que se liga com desenvolvimento sustentável. Significa criar oportunidades de melhoria de vida a partir da manutenção dos recursos naturais.
Segundo a IUCN, mulheres são mais dependentes dos recursos florestais exatamente por conta dessa ligação mais estreita com a sobrevivência da família. No entanto, no mundo todo, a posse ou a liderança de empreendimentos florestais está geralmente com os homens. “Se ignorarmos a questão de gênero, não há dúvida de que iremos falhar nos nossos esforços em fortalecer a contribuição das florestas para redução da pobreza, conservação da biodiversidade e desenvolvimento sustentável”, diz Lorena Aguilar, conselheira da IUCN.
A experiência mais legal nesse sentido é a do Green Belt Movement, no Quênia. O que era uma iniciativa bem grassroots de mulheres plantando árvores para tentar combater as secas se transformou na maior organização feminista-conservacionista do mundo. Foi fundada por Wangari Muta Maathai, a primeira ambientalista da história (homem ou mulher) a ganhar o Nobel da Paz, em 2004.
Hoje com diversas frentes de ação, o Green Belt oferece formação em gestão, liderança, desenvolvimento de projetos, entre outros, a todas as mulheres participantes. Bem que essa experiência poderia inspirar a Amazônia brasileira!
Este texto foi adaptado do blog Eco Balaio, editado pela repórter Carolina Derivi, no site Planeta Sustentável