Zabé da Loca tem a leveza do sopro e a força do vento. Nasceu Isabel Marques da Silva, em 1925, mas as adversidades da vida, a pobreza e a miséria a obrigaram a viver por mais de 20 anos numa gruta, numa loca, como é dito em sua terra, a Paraíba. Virou Zabé da Loca, para abreviar. Não é muito de conversa, mas nos dá seu recado nas notas fortes de um pífano, instrumento tipicamente nordestino que a acompanha desde os 6 anos de idade. Por meio da música tornou-se mestre, símbolo de resistência. Gravou disco, ganhou prêmios e até uma casa na cidade onde vive, Monteiro, a 300 quilômetros da capital, João Pessoa. É bem próxima à antiga gruta, a qual alguns querem transformar num memorial em homenagem a Zabé. Ela quer esquecer.
O que nunca esqueceu foi a capacidade que o sopro tem de mudar a vida das pessoas: há três anos, incansável, criou em sua cidade um projeto no qual ensina 80 crianças do sertão paraibano a retirarem melodias da pequena flauta. Aos 86 anos, ainda faz shows pelo Brasil, e percorre o mundo levando sua mensagem. Quando a força vem de dentro, não tem pedra que resista.