Entrevista: João Andrade
O Redd – sigla para Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação – é a estrela do momento nas discussões sobre o futuro do mercado de carbono. Em tese, uniria o útil ao agradável, permitindo que os países desenvolvidos compensem parte de suas emissões de carbono em países em desenvolvimento, investindo na preservação de suas florestas. Mas o mecanismo ainda está longe de remunerar os donos de florestas. João Andrade, economista do Instituto Centro de Vida (ICV), de Cuiabá, está envolvido em um projeto piloto em Cotriguaçu, no noroeste de Mato Grosso, em parceria com a TNC. Ele falou a Página22 sobre os desafios para incluir o Redd na cesta de produtos da economia verde.
Uma projeção do ICV aponta que pecuaristas e produtores de soja deixariam de faturar US$ 6,9 bilhões se cumprida a meta matogrossense de redução do desmatamento para 2020. Os ganhos com Redd serão capazes de cobrir essa perda? O Redd é vantajoso para os países desenvolvidos que precisam mitigar suas emissões. Tanto que a regulamentação discutida internacionalmente prevê limitar a quantidade de recursos que poderão ser destinados a ele. O potencial é grande, mas não é a solução do problema. O Redd é mais um ingrediente na cesta da economia de baixo carbono. O crescimento da demanda por alimentos vai acontecer e o Brasil tem estoques de terra para ocupação, vai haver pressão pela expansão agrícola. É como se a gente estivesse criando uma nova commodity para a Amazônia.
Os governos dos estados amazônicos falam muito no Redd como caminho para o desenvolvimento. O que existe de concreto? O Acre é o mais avançado, já concluiu seu marco legal e a Califórnia pretende apoiar seu programa estadual de Redd. Amazonas e Mato Grosso também estão avançados no marco legal. Na prática, o Brasil e Mato Grosso estão reduzindo as emissões do desmatamento, mas é uma situação conjuntural que pode mudar conforme a demanda de alimentos. Isso influencia a demanda por novas áreas agrícolas e pode mudar a tendência. Onde a economia florestal é mais forte, haverá maior potencial para o Redd. Mas onde há avanço da fronteira agrícola, o desafio é maior para conciliar a preservação da mata com essa produção agrícola.
O perfil empresarial dos proprietários da fronteira agrícola dá conta de um negócio tão arrojado? Há diferentes perfis e pressões conforme o setor. As indústrias madeireiras e os grandes proprietários que lidam, ambos, com exportação pensam em agregar valor à produção com essa nova economia. Os médios e grandes produtores ligados à pecuária podem começar a sofrer pressão dos compradores, mas isso ainda não acontece em Mato Grosso. Sabemos que no Pará o frigorífico Marfrig paga a mais na arroba do boi para quem tem regularização ambiental. A preparação do produtor para entrar nessa nova economia vem por dois caminhos, pressão do governo e incentivo econômico. Já o pequeno agricultor precisa de mais ajuda. Ele ainda tem dificuldade de viabilizar a comercialização e a floresta é o capital natural que ele tem disponível de forma imediata.
Qual é o status atual do piloto de Redd no noroeste de Mato Grosso? Estamos na fase de estruturação. Não existe um projeto em andamento, mas partes que são importantes para compor um. Em 2010, realizamos diagnósticos setoriais, avaliando o que precisa melhorar e como aumentar a produção sem gerar mais impacto. Trata-se de melhorar o desempenho das atividades sem avançar sobre a floresta. Para isso, alguns setores têm de aumentar a produtividade e outros têm de melhorar a comercialização. Então, estamos concluindo essas análises para a produção de leite, gado de corte e madeira. Junto a isso também estamos verificando qual o estoque de carbono de área de floresta intacta em Cotriguaçu para ter valores mais precisos para a região.
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