Uma escolha diplomática
Com 25 anos de trabalho na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o pesquisador Eduardo Assad recebeu da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, o desafio de cumprir as metas da Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC). Nomeado para chefiar a Secretaria de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental, Assad falou a Página22.
As dez ações de mitigação de gases de efeito estufa previstas no decreto que regulamentou a PNMC relacionam-se com o setor agropecuário, que tem sido resistente à pauta ambiental. Nesse contexto, como cumprir as metas? O plano setorial mais avançado é justamente o da agricultura. Tanto que, em 2010, o governo disponibilizou R$ 2 bilhões para atender quatro de suas linhas: recuperação de pastagens, integração lavourapecuária, plantio direto e fixação biológica de nitrogênio no solo. Agora estamos discutindo a opção de usar sequestro de carbono para pagar dívida agrícola. Os produtores percebem que é uma oportunidade de negócio tirar de suas atividades o carimbo de emissor e colocar o de sequestrador de carbono. Esta é uma das melhores oportunidades que o Brasil está tendo. O nosso boi será verde.
Há uma decisão política de concentrar esforços nas áreas de floresta e cerrado e no setor agropecuário? No balanço de emissões do Brasil, há uma parcela muito grande creditada ao desmatamento, ao uso do solo e à agricultura, então o foco maior será esse, até que se consigam níveis mais razoáveis de emissões vindas dessas fontes. Estamos falando de 60%, 70% das emissões brasileiras, por isso a prioridade é a redução do desmatamento, o que, por sinal, estamos conseguindo.
Alguns analistas afirmam que essa redução se deve mais ao mercado do que a ações de comando e controle do governo. O senhor vê risco de o desmatamento aumentar, caso os preços das commodities subam? Concordo com o raciocínio considerando-se as políticas de 2004/2005, mas não na situação que temos hoje. No modelo atual, mesmo se melhorarem os preços, temos uma série de ações para evitar o aumento do desmatamento. Os mecanismos para coibir o desmatamento ilegal são claros, não conseguimos coibir tudo, mas melhoramos muito. E há espaço para aumento de produtividade agrícola sem avançar sobre as áreas florestais.
À medida que o desmatamento cai, ganham destaque as emissões dos setores industrial, energético e de transporte. Como as medidas para esses setores estão avançando? Vamos discutir o transporte nas cidades, estimular a adoção de ônibus a etanol, melhorar a eficiência de filtros e catalisadores. A análise de ciclo de vida dos produtos se tornará uma barreira não tarifária. Temos de trabalhar a qualidade do nosso produto industrial para que ele tenha bom balanço de carbono.
Um relatório recente do Greenpeace aponta que o País pode eliminar o uso de carvão e energia nuclear, além de diminuir a participação de hidrelétricas, investindo em energia eólica e solar. Há planos nesse sentido? Não queremos competir com o setor hidrelétrico, nossa ideia é complementar e reduzir a possibilidade de apagões futuros. São fontes importantes para localidades longínquas, como comunidades da Amazônia, do Nordeste, mesmo de alguns lugares do Cerrado, onde as linhas de transmissão têm dificuldade em chegar. São uma possibilidade para aquecimento de água, luz elétrica, refrigeração. Daremos um empurrão nesses segmentos com o Fundo Clima, estamos programando empréstimos a juros atrativos especialmente para eles. Também temos um protótipo no litoral mostrando que é possível usar a força das ondas para geração de energia. Com 8 mil quilômetros de costa, essa é uma possibilidade que temos de explorar.